A ex-secretária de um campo de concentração nazista, de 96 anos de idade, que fugiu antes do início de seu julgamento nesta quinta-feira (30), na Alemanha, foi encontrada. Ela será julgada por cumplicidade no assassinato de mais de 10 mil pessoas.
De acordo com a CartaCapital, o julgamento era para ser um dos últimos do país por cumplicidade em crimes do Holocausto, mas teve de ser adiado porque a acusada tentou fugir do lar de idosos em que mora.
Irmgard Furchner deveria se apresentar ao tribunal na manhã desta quinta, mas pegou um táxi na casa de repouso e foi deixada em uma estação de metrô nos arredores de Hamburgo, afirmou Frederike Milhoffer, porta-voz do tribunal alemão de Itzehoe.
De acordo com a revista alemã Der Spiegel, a fuga já havia sido anunciada em uma carta escrita pela acusada ao presidente do tribunal, Dominik Gross, mas não teria sido levada a sério pela Justiça alemã.
A antiga secretária, que usa uma muleta ou andador para se locomover, acabou sendo encontrada horas depois, quando um mandado de prisão já havia sido emitido.
— Um médico definirá sua capacidade de ser presa, e o tribunal determinará se o mandado de prisão pode ser executado ou se ela será poupada — disse o porta-voz Frederike Milhoffer em uma coletiva de imprensa.
A tentativa de fuga causou surpresa e consternação.
Irmgard Furchner trabalhou como datilógrafa e secretária do comandante Paul Werner Hoppe, no campo de concentração Stutthof, na Polônia atual, entre junho de 1943 e abril de 1945. Cerca de 65 mil pessoas foram assassinadas neste campo de concentração, entre eles “prisioneiros judeus, partidários poloneses e prisioneiros de guerra soviéticos”, afirma a acusação.
Ela teria "digitado as ordens de execução e deportação e as rubricado", afirmou Christoph Rückel, advogado que há anos representa os sobreviventes do Holocausto, na estação pública de televisão regional NDR.
Irmgard Furchner tinha de 18 a 19 anos na época do crime e, atualmente, mora em um lar de idosos perto de Hamburgo. Ela é a única mulher envolvida com o nazismo a ser julgada no país nas últimas décadas.
Após o atraso de hoje, ainda não há data para a abertura do processo. As audiências, programadas para durar até junho de 2022, devem ser limitadas a algumas horas por dia.
Desde 2011, quando uma decisão contra o ex-guarda John Demjanjuk estabeleceu um precedente legal inédito para punir quem trabalhou no regime nazista, a Alemanha tem corrido contra o tempo realizar os julgamentos.
Além disso, o julgamento de réus cada vez mais velhos tem provocado polêmica. Na última década, o país europeu condenou quatro antigos funcionários de campos nazistas por cumplicidade em crimes do Holocausto. Em 2020, um ex-guarda de 93 anos foi condenado por participar na morte de mais de 5 mil prisioneiros.
Em uma publicação nas redes sociais, Efraim Zuroff, diretor do Centro Simon-Wiesenthal, uma das organizações que procura nazistas vivos, afirmou: "Saudável para fugir, saudável para ir para a prisão."
O julgamento de Irmgard Furchner deve ser seguido pelo de um ex-guarda, de 100 anos, no campo nazista de Sachsenhausen, perto de Berlim.