Os votos da região rural, da área de selva e do Exterior podem definir o segundo turno presidencial no Peru, onde a candidata de direita Keiko Fujimori supera o postulante de esquerda Pedro Castillo, em um país devastado pela pandemia, em recessão e sob incerteza política.
A contagem oficial é liderada por Fujimori com 50,59% dos votos, enquanto Castillo tem 49,41%, após a apuração de mais de 85% das urnas, anunciou o Escritório Nacional de Processos Eleitorais (ONPE).
No domingo à noite, com a apuração de 42% das urnas, moradores de bairros ricos de Lima, como Miraflores, celebraram em suas janelas a vitória parcial de Fujimori. As ruas da capital permaneceram desertas devido ao toque de recolher noturno em vigor pela pandemia.
Os primeiros resultados foram uma injeção de ânimo para os peruanos que afirmam temer que o país "caia no comunismo" em caso de vitória de Castillo.
Uma pesquisa de boca de urna do instituto Ipsos apontou uma leve vantagem para Fujimori, com 50,3% contra 49,7% para o rival, mas depois uma apuração rápida dos votos do mesmo instituto apontou a inversão do resultado, com 50,2% para o professor de escola rural e 49,8% para a filha do detido ex-presidente Alberto Fujimori.
A apuração rápida, que tem margem de erro de 1%, "nunca se equivocou" nas eleições peruanas, destacou Fernando Tuesta, ex-diretor do ONPE. "O mais próximo do resultado final é a (apuração rápida) do Ipsos", escreveu Tuesta no Twitter.
O ONPE sempre divulga em seus primeiros boletins os resultados das zonas urbanas e o percentual que falta, que demorar a ser apurado, procede das zonas rurais, de selva e do Exterior.
Caso não aconteçam contratempos, durante a segunda-feira os resultados podem alcançar níveis irreversíveis, mas não estão descartadas impugnações dos votos, o que adiaria a definição em caso de uma diferença estreita.
Calma em meio à apuração
Castillo, 51 anos, reagiu com calma aos resultados parciais e, em sua região natal, Cajamarca (norte), advertiu que "ainda falta contar os nossos votos, da zona rural".
Fujimori, 46 anos, não comentou os primeiros resultados oficiais. Ela permaneceu em Lima com sua família. Mais cedo, declarou que a boca de urna deveria ser considerada com "prudência" porque a margem de diferença era "pequena".
— Aqui não há um vencedor ou perdedor, aqui o que se tem é que buscar finalmente a unidade de todos os peruanos — completou.
Uma missão de observação eleitoral da Organização dos Estados Americanos (OEA) está no Peru para monitorar o processo, liderada pelo ex-chanceler paraguaio Rubén Ramírez, e até o momento respaldou o trabalho das autoridades peruanos.
Direita e esquerda na disputa
Keiko Fujimori pode ser a primeira presidente do Peru, meta para a qual trabalha há 15 anos, desde que assumiu a missão de reconstruir praticamente das cinzas o movimento político de direita fundado por seu pai em 1990.
Mas uma derrota no segundo turno não representaria apenas o terceiro revés nas urnas, mas que ela teria que ir julgamento com o risco de terminar na prisão.
Fujimori é investigada pelo Ministério Público pelo caso de pagamentos ilegais da empresa brasileira Odebrecht, um escândalo que afetou quatro ex-presidentes peruanos. Ela ficou 16 meses em prisão preventiva por este caso.
Casada e com duas filhas, em caso de vitória ela estabelecerá o precedente de ser a primeira mulher nas Américas a chegar ao poder seguindo os passos de seu pai.
Do outro lado está Castillo, que saiu do anonimato há quatro anos ao liderar uma greve de professores e que, em caso de vitória, seria o primeiro presidente peruano sem vínculos com as elites política, econômica e cultural.
Castillo "seria o primeiro presidente pobre do Peru", definiu o analista Hugo Otero à AFP.
O novo presidente tomará posse em 28 de julho, em um país em crise, que teve quatro chefes de Estado desde 2018 e que registra a maior taxa de mortalidade do mundo pela pandemia, com mais de 185.000 mortes em uma população de 33 milhões de habitantes.
O país registrou uma queda de 11,12% do PIB em 2020.