Nove meses depois da morte de George Floyd lançar uma nova luz sobre a questão racial nos Estados Unidos, o julgamento contra o policial branco acusado de assassiná-lo começa nesta segunda-feira (8). A sessão terá início às 8h no horário local (10h em Brasília), em Minneapolis, com a escolha do júri.
As imagens chocantes da morte de Floyd, de 46 anos, em 25 de maio, geraram a onda de protestos Black Lives Matter contra a brutalidade policial e a injustiça racial nos Estados Unidos e em capitais ao redor do mundo.
O caso de Derek Chauvin, um ex-agente do Departamento de Polícia de Minnesota (MPD) filmado pressionando o seu joelho no pescoço de Floyd, promete ser inédito em muitos aspectos: contará com advogados famosos, será realizado sob forte segurança e será transmitido ao vivo.
As autoridades mobilizaram milhares de policiais e membros da Guarda Nacional para auxiliar na segurança durante o julgamento. O tribunal do condado de Hennepin, onde ocorrerá o júri, já parece um campo armado, cercado por barreiras de concreto e cercas de arame farpado.
Os jurados em potencial receberam um questionário de 15 páginas. "Quão favorável ou desfavorável você é sobre Black Lives Matter?", é uma das perguntas.
"Você já viu um vídeo da morte de George Floyd? Se sim, quantas vezes?" ou "Você, ou alguém próximo a você, participou de alguma das manifestações ou passeatas contra a brutalidade policial?", também aparecem no questionário.
O escritório do Procurador-Geral do Estado de Minnesota convocou Neal Katyal, um ex-procurador-geral interino que argumentou perante o Supremo Tribunal, para ajudar com a acusação. Katyal descreveu o julgamento de Chauvin como um "caso criminal histórico, um dos mais importantes da história" dos Estados Unidos.
Ashley Heiberger, ex-policial que agora trabalha como consultora sobre as práticas policiais, afirmou que "o fato de um policial ter sido acusado criminalmente de uso abusivo da força é, em si mesmo, uma exceção".
— É ainda mais raro que eles sejam condenados — acrescentou.
— Há uma tendência do júri querer dar ao policial o benefício da dúvida — ressalta.
Três outros oficiais envolvidos na prisão de Floyd, Alexander Kueng, Thomas Lane e Tou Thao, enfrentam acusações menores e serão julgados de forma separada. Todos os quatro envolvidos no caso foram demitidos pelo Departamento de Polícia de Minneapolis.
Milhares de pessoas protestaram no domingo (7) nesta cidade do norte do país atrás de um caixão coberto de rosas brancas para exigir "justiça".
A multidão, muito diversa, manteve silêncio na maior parte do tempo, quebrado apenas para repetir "Se não há justiça, não há paz". Um cartaz destacava as últimas palavras de Floyd: "Não consigo respirar". Se o policial não for condenado é provável que aconteça uma nova onda de manifestações contra o racismo.
"Exatamente para o que foi treinado", diz advogado
Chauvin, que atuava há 19 anos na polícia, foi libertado sob fiança no outono e deve se declarar inocente das acusações de homicídio e homicídio culposo.
— Ele agiu de acordo com a política do MPD, seu treinamento e seus deveres como oficial licenciado do Estado de Minnesota — afirmou seu advogado, Eric Nelson.
— Ele fez exatamente o que foi treinado para fazer — acrescentou.
De acordo com Nelson, Floyd morreu de overdose de fentanil. Uma autópsia encontrou vestígios da droga no corpo de Floyd, mas especificou que a causa da morte foi "compressão do pescoço".
Ben Crump, advogado que representa a família Floyd, declarou no sábado que espera que a equipe de defesa questione sobre o caráter do afro-americano.
— Eles vão tentar fazer as pessoas esquecerem o que veem no vídeo — afirmou.
Será necessária uma decisão unânime de todos os 12 jurados para colocar Chauvin atrás das grades.