Uma nova cepa de coronavírus, distinta da detectada recentemente na África do Sul e na Inglaterra, mas que "compartilha algumas mutações" com esta última, foi descoberta na Nigéria.
Depois de anúncio discreto durante a semana pelo Centro Africano de Excelência para a Genômica das Doenças Infecciosas (Acegid), com sede em Ede, na Nigéria, o Centro Africano de Controle de Doenças (CDC) (agência de saúde da União Africana) organizou uma reunião de emergência.
Em entrevista à AFP, o professor Christian Happi, biólogo molecular que participou do sequenciamento genético da nova variante, pediu para não "extrapolar" a descoberta. O Acegid analisou no início do mês 200 mostras do vírus e duas delas, obtidas de pacientes em 3 de agosto e 9 de outubro, apresentam mutações genéticas.
— Não temos ideia nem certeza se esta variante tem relação direta com o aumento de casos na Nigéria atualmente — disse o professor.
A Nigéria é o país de maior população da África, com 200 milhões de habitantes. Até sábado (26), o país havia registrado ao todo 82 mil casos e 1.246 mortes — números relativamente baixos, levando em conta a baixa quantidade de testes realizados no país. Apesar do cenário, o número de contágios registra aceleração.
— Não sabemos de onde vem a nova variante. Acreditamos que é independente, que se produz na Nigéria. Não acredito que é importada — disse o biólogo, frisando que a mutação é um processo relativamente comum. — O importante não é a mutação, e sim a transformação da proteína spike, a parte do vírus que permite o acesso às células do corpo e que tornaria esta mutação infecciosa.
O Acegid trabalha com o Centro de Doenças Infecciosas da Nigéria (NCDC), organismo de saúde pública nacional, para tentar explicar o aumento recente de casos de covid-19 e se este pode ser motivado pela nova cepa. Apesar disso, a taxa de mortalidade relativamente baixa na Nigéria, em comparação com os países ocidentais, não aumentou recentemente.
— Existe uma tendência a extrapolar com as novas variantes do vírus — diz o professor, referindo-se ao pânico gerado pela descoberta. — Nada prova, por exemplo, que a cepa encontrada na Inglaterra teria os mesmos efeitos na Nigéria e vice-versa. Se há algo que a covid-19 nos ensinou é que em tudo que acreditávamos saber sobre este vírus, estávamos equivocados: alguns previram que um terço da população da África morreria, mas não podemos aplicar as pesquisas e os números reunidos na Europa e nos Estados Unidos aqui. Somos geneticamente diferentes, nossa saúde imunológica é diferente.
Até o momento, a África registra 2,4 milhões de casos de covid-19, ou seja, 3,6% do total mundial, segundo o balanço da AFP. O continente confirmou pouco mais de 57 mil mortes, número menor do que o da França (59.072).