O ex-presidente Evo Morales cruzará a fronteira argentina por terra, nesta segunda-feira (9), para iniciar um "retorno triunfal" à Bolívia, com uma caravana de 800 carros que percorrerá mais de mil quilômetros até a zona "cocalera" de Cochabamba, onde iniciou sua carreira política.
A viagem de três dias, que começa na cidade fronteiriça de Villazón, é carregada de simbolismo. O ex-presidente de esquerda (2006-2019), de 61 anos, retorna para seu país um dia depois da posse de seu herdeiro político Luis Arce e horas antes de se completar um ano do dia de sua renúncia à presidência boliviana.
— Este é um retorno triunfante. Evo Morales é um líder indiscutível em nível mundial. Esperamos milhares de pessoas. Em Villazón, somos quase 50 mil habitantes e vamos todos — disse Huelvi Mamani, um dos encarregados da segurança do megaevento de boas-vindas, em Villazón.
Morales viajou no domingo (8) para a cidade de La Quiaca, na província argentina de Jujuy, na fronteira com a Bolívia. Nesta segunda, o presidente argentino, Alberto Fernández, irá acompanhá-lo a cruzar a fronteira.
Já em terras bolivianas, terá início a caravana de 1,1 mil quilômetros, para a qual foram inscritos 800 veículos, segundo os organizadores. No primeiro dia, a carreata passará por vários municípios do sul, no departamento de Potosí. Na terça, atravessará Orinoca (departamento de Oruro), culminando, na quarta-feira (11), em Chimoré, no Trópico de Cochabamba.
A ideia do líder aimara é chegar a Chimoré no mesmo dia em que deixou o país há um ano.
Morales renunciou à presidência em 10 de novembro de 2019, após perder o apoio das Forças Armadas. No dia seguinte, viajou para o México e, semanas depois, em dezembro, refugiou-se na Argentina. Foi no Trópico de Cochabamba que ele despontou como líder dos "cocaleros", na década de 1980. Nessas áreas rurais, há muitos grafites com a frase "Volte, Evo" nas fachadas das casas de tijolos e adobe.
A Bolívia é um dos países da América Latina com a maior população indígena, correspondente a 41% de seus 11,5 milhões de habitantes. Destes, 34,6% vivem na pobreza, e 12,9%, na pobreza extrema.
Em um contexto agravado pela pandemia de coronavírus, muitos querem que se repita o "milagre econômico" da gestão de Morales, quando Arce era ministro da Economia: alto crescimento e redução da pobreza (de 60% para 37,2%).