Alexei Navalny, o mais importante nome da oposição ao governo de Vladimir Putin, na Rússia, foi envenenado, de acordo com médicos do Hospital Charité, de Berlim, Alemanha. Os resultados dos exames, divulgados na segunda-feira (24), foram confirmados por laboratórios independentes.
Embora a substância que envenenou o opositor não seja conhecida, acredita-se que seja um inibidor do sistema nervoso, segundo comunicado do hospital. A suspeita é de que Navalny tenha sido envenenado com novichok, agente nervoso usado no ataque de março de 2018 contra o ex-agente duplo russo Sergei Skripal e sua filha Yulia, na cidade britânica de Salisbury.
Os médicos acrescentam que ele continua em coma induzido e "não há perigo agudo para sua vida".
"Os resultados indicam envenenamento por uma substância do grupo de inibidores de colinesterase", informou o hospital.
Essa enzima pode ser usada, em doses baixas, no combate ao Alzheimer. Dependendo da dose, porém, a substância pode ser perigosa, porque produz agentes neurotóxicos igualmente poderosos. Seus efeitos colaterais incluem vômitos, dor de cabeça e alucinações.
De acordo com a nota do hospital, "o desfecho da doença permanece incerto e, nesta etapa, não podemos descartar sequelas no longo prazo, em particular no sistema nervoso", afirma o comunicado.
"A substância específica envolvida continua desconhecida, e uma série adicional de exames abrangentes foi iniciada".
Governo Putin diz "não entender pressa para resultados dos exames"
O Kremlin afirmou nesta terça que os médicos alemães se apressaram para afirmar que Navalny foi envenenado, depois que seus colegas russos descartaram a hipótese.
— A análise de nossos médicos e a dos médicos da Alemanha concordam por completo. Mas as conclusões são diferentes. Não entendemos esta pressa da parte dos colegas alemães — declarou Dmitri Peskov, porta-voz do presidente Vladimir Putin.
O caso
Na quinta-feira (20), Navalny, de 44 anos, se sentiu mal a bordo de um avião que o levava da Sibéria para Moscou, após tomar um chá. A aeronave teve de fazer um pouso de emergência em Omsk, onde ele foi hospitalizado.
De acordo com amigos, que queriam tirá-lo da Rússia rapidamente, os médicos pareciam dispostos a cooperar para a transferência, mas oficiais à paisana e agentes de segurança invadiram o hospital e os médicos negaram permissão par que ele saísse do país — o que só foi permitido no sábado (22). Desde o início, sua porta-voz, Kira Yarmish, afirmou que o opositor foi vítima de envenenamento.
"Agora, nossas afirmações foram confirmadas por análises de laboratórios independentes. O envenenamento de Alexei não é mais uma hipótese, mas um fato", disse ela nesta segunda-feira no Twitter.
Navalny só foi transferido da Rússia após pressão da chanceler alemã, Angela Merkel, e do presidente francês, Emmanuel Macron.
— Existem alguns exemplos (de envenenamento) na história recente da Rússia, e o mundo leva essa suspeita muito a sério — disse Steffen Seibert, porta-voz de Merkel, que pediu às autoridades russas que punam os autores do envenenamento.
"As autoridades (russas) devem resolver esse caso com urgência e com total transparência", afirmou Merkel, no comunicado, em que pediu ainda que os responsáveis "sejam levados à Justiça" para responder por suas ações.
O incidente pode prejudicar ainda mais as relações tensas da Rússia com seus vizinhos europeus. De acordo com o jornal alemão Frankfurter Allgemeine, a agressão a Navalny terá impacto nas relações entre Berlim e Moscou". Governos da Europa acusam o Kremlin de perseguir dissidentes, inclusive fora de suas fronteiras, o que a Rússia sempre negou.
Navalny é conhecido por seus vídeos no YouTube em que expõe casos de corrupção e suborno de políticos, burocratas e oligarcas russos. Ele foi impedido de concorrer na eleição presidencial de 2018 e já foi preso diversas vezes por organizar protestos não autorizados.