Dezenas de milhares de manifestantes protestaram neste domingo (23) em Minsk, em Belarus, contra a reeleição do presidente Alexandre Lukashenko, confrontado há duas semanas por um movimento de protestos histórico que mantém a pressão sobre seu governo, segundo repórteres da AFP.
No poder há 26 anos, Lukashenko, de 65 anos, prometeu que iria "resolver o problema" das manifestações que, segundo ele, são instigadas pelo Exterior, e colocou o exército em alerta, acusando a OTAN de fazer manobras em suas fronteiras. Neste domingo, ele apareceu descendo de um helicóptero com um rifle automático na mão ao chegar na sua residência em Minsk.
A imprensa e contas no Telegram vinculadas à oposição calcularam mais de 100 mil manifestantes na capital bielorrussa. Milhares de pessoas se reuniram no centro da capital, Minsk, com bandeiras brancas e vermelhas, as cores da oposição, segundo constataram repórteres da AFP.
— Se ele realmente ganhou as eleições (com 80% dos votos), então, por que tanta gente está indo para as ruas protestar contra ele? — pergunta Ievgeni, um jovem de 18 anos.
— Lukashenko quer que todos se dispersem e vivam como antes (da eleição). Mas nada voltará a ser igual — insiste Nikita, de 28 anos.
Outros milhares de manifestantes gritavam "liberdade" e "Lukashenko para o carro da polícia". Nos arredores, foram implantadas inúmeras forças antidistúrbios, com canhões de água, segundo repórteres da AFP.
Pouco antes do início do protesto, o Ministério do Interior alertou contra as manifestações "ilegítimas" e pediu aos cidadãos que agissem com "sensatez". O Ministério da Defesa alertou que, em caso de incidentes perto dos memoriais da Segunda Guerra Mundial, onde ocorreram os protestos nessas últimas duas semanas, os responsáveis terão que lidar "não com a polícia, mas com o exército".
A oposição espera repetir o ocorrido em 16 de agosto, quando organizou nas ruas de Minsk a maior manifestação da história do país, com 100 mil participantes, para denunciar -segundo eles - a reeleição fraudulenta à presidência de Lukashenko, uma semana antes.
Continuidade
Segundo o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, a União Europeia "não tem a intenção de transformar Belarus em uma segunda Ucrânia" onde, após uma revolta pró-ocidente, Moscou anexou a Crimeia e alimentou uma guerra separatista no leste do país.
Antes das eleições, o presidente bielorrusso acusou a Rússia e Vladimir Putin de tentar derrubá-lo e anexar o país. Mas, diante da onda de protestos, deu um giro de 180 graus, presumindo o apoio do Kremlin em seu combate às tentativas de desestabilização dos ocidentais.
Por sua vez, o ministro das Relações Exteriores russo, Serguéi Lavrov, alertou neste domingo contra qualquer tentativa de "instigar distúrbios vindas do exterior" e contra um novo "cenário ucraniano".
A líder da oposição bielorrussa, Svetlana Tikhanóvskaya, é uma ex-professora de inglês de 37 anos, que se refugiou em Vilna, capital da Lituânia. Ela afirma ter ganhado a eleição.
— Me sinto muito orgulhosa porque depois de 26 anos de medo (os bielorrussos) estão dispostos a defender seus direitos. Peço que continuem, que não parem, porque é realmente importante continuarmos unidos na luta por nossos direitos — disse Svetlana.
Até agora, o presidente bielorrusso se manteve firme em sua posição. Embora conte com o apoio do exército, da polícia e dos serviços secretos, alguns de seus aliados na imprensa estatal e empresas públicas o abandonaram.
As autoridades bielorrussas abriram uma investigação contra o "conselho de coordenação" formado pela oposição por "atacar a segurança nacional". Este órgão foi criado nesta semana com o objetivo de impulsionar uma transição política após as eleições.