A presidente interina da Bolívia, Jeanine Áñez, que pretende ser candidata nas próximas eleições para a chefia de Estado do país, pediu no domingo (26) a renúncia de todos os seus ministros. Um comunicado divulgado pela secretaria da presidência afirma que que a mandatária "decidiu solicitar a renúncia de todos os ministros (20) para encarar esta nova etapa da gestão de transição democrática". O texto acrescenta que é "usual que nos processos eleitoral aconteçam ajustes na equipe de trabalho do Executivo".
Existe a possibilidade de que alguns ex-ministros sejam candidatos ao Congresso ou que aconteça a saída daqueles que entraram no governo por sugestão do líder regional e candidato à presidência Luis Fernando Camacho. Ele era aliado de Áñez, mas se tornou um opositor da chefe de Estado interina.
Áñez, 52 anos, assumiu o posto de chefe de Estado em 12 de novembro, dois dias após a renúncia do ex-presidente Evo Morales — em um cenário de protestos sociais contra o resultado das eleições e denúncias de fraudes. Ela havia declarado diversas vezes que este era um governo transitório, com o objetivo de organizar eleições gerais.
Entretanto, Áñez anunciou na sexta-feira (24) a decisão de disputar a presidência em uma aliança de seu partido com o prefeito de La Paz, Luis Revilla. A presidente interina foi criticada por romper o compromisso inicial de não disputar a presidência.
— Eu respeito a presidente Áñez, mas acredito que comete um grande equívoco, pois ela não foi nomeada para se apresentar como candidata à presidência do país — afirmou o ex-presidente Carlos Mesa.
Evo Morales, refugiado na Argentina, também recordou que Áñez "prometeu não ser candidata", mas reconheceu que ela tem o direito. Contudo, ao mesmo tempo, existe uma dúvida sobre a legalidade da candidatura de Áñez. O deputado Luis Felipe Dorado, próximo a Luis Fernando Camacho, anunciou que fará uma consulta ao Tribunal Constitucional.
A decisão de Añez de concorrer à presidência resultou na renúncia da ministra da Comunicação, Roxana Lizárraga. Ela afirmou que o governo "perdeu seus objetivos e começou a incorrer nos mesmos males do 'masismo' (em referência ao MAS, partido de Morales) que combatemos".
A oposição sempre criticou o fato de Morales, que chegou ao poder em 2006, ter disputado a reeleição em duas oportunidades e tentado uma terceira vez nas eleições de outubro do ano passado.
No domingo, o jornal 'Página Siete' divulgou uma pesquisa eleitoral. O Movimento Ao Socialismo (MAS), partido de Morales, tem 26% das intenções de voto. O direitista Camacho e o ex-presidente Carlos Mesa aparecem empatados em segundo lugar com 17%. Áñez registra 12%.