Oito cocaleiros apoiadores de Evo Morales morreram nesta sexta-feira (15) em confrontos violentos com a polícia e militares nos arredores de Cochabamba, reduto do ex-presidente da Bolívia. Ao menos 20 ficaram feridos. Do México, onde está exilado, Evo comentou as mortes.
- Realmente é um massacre, porque já é um genocídio. Lamento muito tantos mortos - disse o ex-presidente à rede CNN.
O ex-presidente disse em entrevista ao jornal mexicano El Universal não se arrepender de querer governar por 20 anos, até 2025, quando a Bolívia completará seu bicentenário.
-Com cinco anos mais (no governo) estaria consolidado o crescimento econômico, a integração da Bolívia e a universalização dos diferentes programas sociais - afirmou Evo.
Milhares de opositores da autoproclamada presidente Jeanine Añez entraram em conflito com as forças policiais na ponte Huayllani, que foi bloqueada por agentes, quando tentavam chegar à cidade de Cochabamba, a 18 quilômetros de distância.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos condenou em um comunicado o "uso desproporcional da força policial e militar". O órgão publicou nas redes sociais um vídeo dos corpos enfileirados no chão e afirmou, ainda, que "as armas de fogo devem estar excluídas dos dispositivos utilizados pelo controle dos protestos sociais".
No sábado (16), a Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, alertou que a violência no país pode sair de controle caso as autoridades não lidem com a situação respeitando os direitos humanos.
Segundo o comandante da Polícia de Cochabamba, coronel Jaime Zurita, os manifestantes portavam armas, escopetas, coquetéis molotov, bazucas caseiras e artefatos explosivos mais de cem pessoas foram detidas, afirmou.
- Estão usando dinamite e armamento letal como (fuzis) Mauser 765. Nem as Forças Armadas, nem a polícia têm esse calibre, por isso estou alarmado - disse.
A tropa de choque, apoiada por militares e um helicóptero, dispersou os manifestantes à noite. Os conflitos que estouraram um dia depois do anúncio da suposta vitória de Evo nas eleições de 20 de outubro, marcadas por fraudes, deixaram até o momento 18 mortos, mais de 400 feridos e 500 detidos, segundo a contagem oficial.
Os primeiros protestos foram protagonizados por opositores de Morales, mas agora são os partidários do ex-presidente que se manifestam contra Áñez.
O conflito em Cochabamba estourou no mesmo dia em que Añez afirmou que, caso Evo retorne à Bolívia, terá de enfrentar a Justiça por supostas irregularidades nas eleições de outubro e por denúncias de corrupção. Evo nega as acusações e afirma que nunca pediu ajuda a nenhum órgão eleitoral.