O candidato opositor boliviano Carlos Mesa declarou que continuará promovendo os protestos de rua até obter a anulação das eleições de 20 de outubro, que reelegeram o presidente Evo Morales, em meio a protestos que nesta segunda-feira (28) deixaram 30 feridos.
— Vamos seguir em frente com as mobilizações democráticas e pacíficas — disse Mesa em uma concentração opositora em uma avenida no sul de La Paz.
— A prisão ou a presidência.
Mesa destacou como "exemplo a valentia" da participação de milhares de bolivianos nos protestos, principalmente jovens.
— Este é um caminho sem volta, da conquista democrática, da conquista do voto, da conquista da liberdade — declarou Mesa entre os gritos de apoio de seus partidários, ao lado do empresário centrista Samuel Doria Medina, derrotado por Morales nas eleições de 2005 e 2009.
Os protestos da oposição foram qualificados pelo vice-presidente boliviano, Álvaro García, de "atitude golpista para ignorar o voto do povo".
"Ele (Mesa) é o responsável, ele é o culpado" pela violência, por não aceitar sua derrota nas urnas, insistiu García Linera, reeleito com Morales.
Mesa respondeu a García:
— Estamos aqui firmes, a prisão ou a presidência do país.
"A comunidade internacional tem visto o que estamos vivendo desde 20 de outubro, uma fraude vulgar" eleitoral, disse Mesa.
No poder desde 2006, Morales ganhou no primeiro turno das eleições de 20 de outubro, com 47,08% dos votos, contra 36,51 para Carlos Mesa, devido à vantagem de 10 pontos.
Violência
Ao menos 30 pessoas ficaram feridas nesta segunda-feira em confrontos entre partidários de Mesa e apoiadores de Morales, na cidade de Santa Cruz.
— Temos cerca de trinta feridos, há gente em estado grave no hospital que está sendo operada, um ferido a bala e outro, por objeto contundente — informou o secretário da Saúde de Santa Cruz, Oscar Urenda.
Também ocorreram confrontos em La Paz e Cochabamba (centro), com o registro de feridos, segundo a imprensa local.
O bairro de Plano Três Mil, em Santa Cruz, a cidade mais próspera da Bolívia e base da oposição, foi o epicentro de violentos choques — com paus e pedras — devido a um piquete contra a reeleição de Morales para um quarto mandato obtido após uma apuração sob suspeita.
Em Cochabamba, que também está em greve e há piquetes, os incidentes deixaram quatro feridos, segundo o jornal Opinión.
Em La Paz, onde ruas foram bloqueadas, ocorreram choques entre opositores e mineiros ligados ao governo, que detonaram bananas de dinamite, causando temor entre a população.
Um opositor ficou ferido ao ser agredido por partidários de Morales, segundo imagens da TV local.
No bairro de Achumani, no sul da cidade, manifestantes fecharam a avenida principal, mas os motoristas de ônibus tentaram reabrir o trânsito e os dois grupos entraram em confronto, com agressões e pedras. A polícia lançou bombas de gás lacrimogêneo para dispersá-los.
As manifestações em La Paz acontecem nos bairros de classe média e alta da zona sul, embora diariamente milhares de pessoas, entre eles muitos jovens, protestam nos arredores do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) e realizam encontros na praça San Francisco, no centro da cidade.
Em outras cidades, como em Potosí (sudoeste), Sucre (sudeste), Tarija (sul) e Trinidad (nordeste), também ocorreram bloqueios de ruas e estradas.
Morales denuncia plano de "golpe"
Diante do ataque da oposição, Morales denunciou que "distintos setores sociais (...) se preparam para dar um golpe de Estado" esta semana.
Morales, de 60 anos, recebeu o apoio de um poderoso sindicato de trabalhadores rurais, que anunciou que bloqueará as estradas do país "contra o golpe de Estado, em defesa da democracia e em defesa do voto indígena".
Até agora, trabalhadores rurais bloquearam somente a estrada entre Santa Cruz e Yapacani, município rural de 26.000 habitantes.
Eles receberam apoio de um sindicato de colonos, que também efetuará bloqueios, "pelo respeito ao voto do povo camponês, indígena, intercultural".