Em meio à onda de protestos no Chile, o presidente Sebastián Piñera suspendeu o estado de emergência a partir desta segunda-feira (28). O decreto havia sido estabelecido no último dia 19, devido aos incêndios, saques e confrontos registrados em protestos provocados pela alta no preço do metrô — e que desencadeou uma série de manifestações pelo país.
A suspensão do decreto motivou a ida de milhares de pessoas para as ruas, na expectativa de respostas do governo à explosão social iniciada na semana passada. Cerca de 100 mil manifestantes marcharam até a sede do Congresso Nacional, em Valparaíso (a 120 km de Santiago), na maior manifestação em décadas naquela região. Agitando bandeira, os protestantes exigiram mudanças profundas no modelo econômico do país.
— A fortaleza do movimento social que tomou as ruas foi sua transversalidade e seu caráter pacífico e construtivo. Nosso chamado é que, em Valparaíso, continue sendo assim. Hoje mais do que nunca, ante o fracasso da estratégia de segurança do governo, que não evita saques e incêndios — disse o prefeito da cidade, Jorge Sharp.
Ocorreram ainda protestos em Rancagua, Concepción e Talca, cidades do sul do país onde centenas de manifestantes enfrentaram a polícia no início da noite. Em Santiago, em frente à sede do governo, mil ciclistas se reuniram em protesto contra Piñera e foram dispersados pela polícia com água e gás lacrimogêneo.
Já no parque O'Higgins de Santiago, cerca de 15 mil pessoas se concentraram, segundo a polícia, em um ato cultural chamado "O direito de viver em paz", em alusão à música de Víctor Jara, músico assassinado pela ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). Nas redes sociais foram convocadas novas manifestações para esta segunda e terça-feira (29) em frente à sede do governo.
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A pressão se mantém sobre o presidente à espera de que se concretize a mudança de gabinete que ele anunciou após pedir a renúncia de todos os seus ministros, juntamente com medidas que complementem o pacote que ele divulgou na semana passada, que inclui aumento de 20% das pensões básicas, aumento na tarifa do metrô, aumentos dos impostos dos mais ricos e diminuição do número de parlamentares, e que muitos chilenos consideram insuficiente.