Depois de ter defendido uma recontagem dos votos na eleição presidencial da Bolívia, o presidente Jair Bolsonaro amenizou o discurso em relação ao país vizinho e disse que não pretende ter nenhum problema com Evo Morales.
Em seu último dia no Japão, de onde embarcou para a China, ele afirmou na manhã desta quinta-feira (24), noite de quarta-feira (23) no Brasil, não acreditar que a crise no país vizinho possa interferir nas relações comerciais com o Brasil, sobretudo na compra de gás natural.
— Não vai chegar a esse ponto, muito pelo contrário. Quando estive com Evo Morales, ele disse que quer comprar um KC-390 nosso e pediu para facilitarmos a entrada e saída das nossas alfândegas em Rondônia. Ele está de bem comigo e não pretendo ter nenhum problema com ele. Eles querem, inclusive, ampliar a venda de gás para nós — disse.
Apesar do tom amistoso, Bolsonaro criticou a esquerda na América do Sul, que, segundo ele, usa a democracia para atingir seus objetivos. O presidente fez referência a uma frase que costuma ser atribuída ao líder da Revolução Russa, Vladimir Lênin — mas não se sabe se ela foi realmente dita por ele.
— Eles sempre usam as armas da democracia para conseguirem seus objetivos e depois mudam completamente. E tem aquela máxima de Lênin: "Acuse-os do que você faz, chame-os do que você é" — disse.
A apuração dos votos na eleição boliviana gerou protestos no país e levou o próprio governo federal a pedir uma auditoria externa. A Organização dos Estados Americanos (OEA) manifestou "preocupação e surpresa" com a mudança na contagem de votos.
A confusão ocorreu porque, após o fechamento das urnas, o Tribunal Supremo Eleitoral usou dois métodos de apuração: somando os votos registrados em atas e contando os votos um a um. E apenas os resultados do primeiro foram divulgados num primeiro momento.
Diversos países, incluindo Estados Unidos, Argentina e Colômbia, assim como a União Europeia, também manifestaram preocupação com a situação. Depois de uma segunda-feira de protestos violentos na Bolívia, a terça-feira registrou movimentos menos intensos. Nesta quarta, grupos contra e a favor do presidente voltaram a ocupar as ruas.
Às 22h40min de domingo (20), com 89% das urnas apuradas por meio da contabilidade de atas, Evo tinha 45,7% contra 37,8% de Mesa — o resultado levaria a um segundo turno, cenário previsto por pesquisas de intenção de votos.
Durante a noite, no entanto, a apuração foi suspensa e nenhum voto foi computado. Na segunda-feira pela manhã, o tribunal afirmou que a apuração um a um mostrava resultados diferentes. Diante das divergências, a apuração feita pelo método voto por voto passou a ser considerada a que traria o resultado oficial.
Na noite da segunda, porém, a apuração via atas foi retomada e, com 95,22% das urnas apuradas, Evo foi anunciado vencedor no 1º turno com 46,86% dos votos, contra 36,73% de Mesa.