Ainda estava claro na sexta-feira (30) quando Eduardo Bolsonaro pediu que suspendessem o jantar na residência da embaixada do Brasil em Washington.
Trocou o terno azulado por calça jeans e camiseta e se acomodou no banco do passageiro de um táxi que dividiu com o secretário-executivo da Casa Civil, Vicente Santini, e com o assessor especial da Presidência, Arthur Weintraub.
Passava das 19h, e o deputado e candidato a embaixador saía para jantar na capital americana após ter se reunido durante 30 minutos com Donald Trump.
Das cerca de 33 horas em que passou em Washington, a comitiva de Eduardo ficou duas na Casa Branca, em conversas com integrantes do Conselho de Segurança Nacional dos EUA e à espera do encontro com o presidente americano.
No resto do tempo, Eduardo, seus auxiliares e o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, fizeram passeios e almoçaram em uma sala reservada de um dos restaurantes à beira do canal que leva ao rio Potomac.
Na região portuária revitalizada de Wharf, pagaram cerca de US$ 1 mil (R$ 4 mil) para uma mesa de sete pessoas no Del Mar, do chef italiano Fabio Trabocchi.
Passaram quase três horas no segundo andar do restaurante, onde pediram quatro porções de paella — três grandes e uma pequena —, que, segundo o cardápio, alimentariam de 14 a 21 pessoas. Beberam sangria e preferiram sair pela porta da cozinha, nos fundos, para tentar despistar a imprensa.
Segundo um dos funcionários do local, Eduardo afirmou que era "filho do presidente do Brasil" para justificar o uso da saída alternativa, escondendo-se dos cinco jornalistas que o aguardavam. Não foi uma novidade para o staff do Del Mar. Outras autoridades já utilizaram o mesmo expediente. A reportagem enviou um pedido ao Itamaraty para esclarecer os custos e o pagamento dos gastos da viagem.
Por volta das 13h30min deste sábado (31), ao deixar a embaixada para o almoço com a comitiva, o deputado não respondeu aos repórteres sobre qual havia sido seu passeio pela manhã ou qual seria seu destino na parte da tarde, e chegou a tuitar que a imprensa o estava "seguindo" a caminho do almoço.
O único compromisso oficial no sábado era uma entrevista de Ernesto Araújo à CNN espanhola, ao meio-dia, da qual Eduardo não participou. Às 18h05min, a comitiva seguiu para a base aérea de Washington, de onde voou de volta ao Brasil.
Depois da reunião no Salão Oval, na sexta, Eduardo não fez nenhum anúncio — ao contrário do que havia dado a entender seu pai horas antes do encontro com Trump —, mas mostrou o que queria: seu acesso ao presidente americano pode estar à distância de um telefonema.
O presidente Bolsonaro havia ligado para Trump na semana passada em meio à crise internacional reverberada com as queimadas na Amazônia. Pediu que o mandatário americano levasse a posição do Brasil à reunião do G7 e impedisse que o presidente francês, Emmanuel Macron, capitalizasse qualquer proposta de solução aos incêndios na floresta. De quebra, começou a costurar a reunião ocorrida na sexta entre seu filho e Trump.
Organizou-se então um bate e volta — com escala em Manaus — do avião da FAB. Ao lado de Eduardo, embarcaram Ernesto, Santini, Weintraub, Filipe Martins (assessor para assuntos internacionais da Presidência) e dois assessores — todos à mesa do almoço deste sábado. A ideia inicial era voltar no mesmo dia, mas acabaram por esticar a viagem.
O encontro matutino de sexta, com o polemista Olavo de Carvalho e sua mulher, Roxane, virou um almoço tardio, pós-Trump, e, depois, Eduardo e Araújo se dividiram. Enquanto o deputado saía com Santini e Weintraub, o ministro e Martins seguiram para um dos pubs da rede Elephant & Castle, por volta das 20h30min de sexta. Junto aos assessores, sentaram-se no meio do bar vazio.
No sábado (31), pediram que o café da manhã fosse servido às 9h30min para, depois, separarem-se novamente. Eduardo foi passear na cidade, e Ernesto, comprar livros. Martins não saiu da residência. Disse que estava gripado.
Na frente da embaixada, o deputado federal chegou a descer do carro para tirar foto com dois brasileiros que o esperavam. Um deles disse que era de Maceió e que apoiava sua indicação para se tornar embaixador do Brasil nos EUA. O presidente Bolsonaro ainda não enviou oficialmente ao Senado a indicação do filho para o cargo porque teme não conseguir os votos favoráveis da maioria dos 81 senadores.
Vestindo uma camiseta com a estampa de uma caveira pintada com a bandeira americana, Eduardo respondeu ao fã:
— Vai ficar longe da praia do Gunga, mas vai ser uma missão importante.