A escalada de tensão no Oriente Médio ganhou novos elementos nesta segunda (16). A Arábia Saudita afirmou ter provas de que as armas usadas contra suas instalações petrolíferas no sábado (14) eram iranianas e que o ataque não partiu do Iêmen, como alegam rebeldes houthis.
O Irã, por sua vez, anunciou ter interceptado um navio suspeito de contrabandear combustível e deteve os 11 membros de sua tripulação, segundo a TV estatal do país, enquanto os houthis — aliados de Teerã no Iêmen — ameaçam fazer mais ataques.
A embarcação apreendida pelo Irã levava 250 mil litros de combustível e foi capturada perto do estreito de Hormuz, importante rota de transporte de petróleo. Nos últimos meses, Teerã anunciou a interceptação de ao menos quatro navios estrangeiros, também pela acusação de que estariam contrabandeando petróleo.
O ataque de sábado, realizado com drones, comprometeu 50% da produção de petróleo da Arábia Saudita e fez o preço do combustível disparar no mercado internacional. Tanto Riad quanto Washington culpam Teerã pela ação, apesar de os houthis terem assumido a autoria do ataque.
— Os resultados preliminares mostraram que as armas (usadas na ação) eram iranianas, e agora estamos trabalhando para determinar a localização (de onde partiu o ataque) — disse, em entrevista coletiva, o coronel Turki al-Malki, porta-voz da coalizão liderada pelos sauditas.
O príncipe-herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, afirmou que "quer e pode responder a esta agressão terrorista".
O presidente dos EUA, Donald Trump, também nesta segunda-feira, corroborou a versão da Arábia Saudita, dizendo que o Irã "parece ser" o responsável pelos ataques.
Ainda que tenha dito no domingo que os EUA estão "locked and loaded" (com as armas preparadas) para atacar, afirmou no dia seguinte não querer guerra com ninguém.
Mais cedo, no Twitter, em referência a um episódio anterior entre os dois países, o presidente escreveu que "o Irã abateu um drone (americano) dizendo que estava em seu 'espaço aéreo', quando, na verdade, não estava nem perto".
"Eles se apegaram fortemente a essa história sabendo que era uma grande mentira. Agora eles dizem que não têm nada a ver com o ataque na Arábia Saudita. Vamos ver?"
Se Trump deixa em aberto a autoria dos ataques, autoridades americanas, a partir dos dados de inteligência do país, cravam que o Irã foi o local de origem da ação contra a indústria de petróleo saudita, segundo reportagem do Wall Street Journal.
Essas informações já foram compartilhadas com a Arábia Saudita, enquanto os dois países avaliam ataques de retaliação, segundo pessoas familiarizadas com as discussões.
A avaliação, que os EUA ainda não compartilharam publicamente, ocorre enquanto Trump levanta a perspectiva de os EUA e a Arábia Saudita unirem forças para lançar um ataque de retaliação contra o Irã. Tal movimento poderia rapidamente se expandir para um conflito regional.
As autoridades sauditas, por sua vez, disseram que ainda não chegaram à mesma conclusão, e indicaram que as informações compartilhadas não são definitivas.
O Irã nega a autoria do ataque e descartou a possibilidade de um encontro na próxima semana, durante a Assembleia Geral da ONU, entre o presidente Hasan Rowhani e Trump —a hipótese tinha sido levantada pela Casa Branca.
Enquanto EUA e Arábia Saudita acusam, e Irã nega, os rebeldes houthis ameaçaram fazer novos ataques contra instalações petrolíferas sauditas.
Além de garantir que poderia atingir qualquer lugar a qualquer momento", Yahya Sare, porta-voz dos houthis, disse à TV al-Masirah que os ataques foram feitos com drones modificados e motores a jato.
O porta-voz do ministério iraniano das Relações Exteriores, Abbas Mussavi, afirmou que as acusações americanas são insensatas e incompreensíveis e que só buscam justificar futuras ações contra o Irã.
Os rebeldes houthis atacaram em diversas ocasiões a infraestrutura saudita, mas esta foi a vez em que causaram maior dano: houve redução da produção de 5,7 milhões de barris por dia, cerca de 6% do abastecimento mundial.
Riad gastou bilhões de dólares em equipamento militar, mas, para os especialistas, os ataques confirmam a vulnerabilidade das instalações petroleiras no Golfo. Os poços de petróleo sauditas estão dispersos e são de difícil acesso, mas suas refinarias estão muito mais expostas.