O território britânico de Gibraltar, ao sul da Espanha, autorizou um petroleiro iraniano detido no início de julho a seguir viagem, apesar de uma solicitação de última hora dos Estados Unidos (EUA) para prolongar a imobilização do barco. O navio era suspeito de ter tentado levar petróleo para a Síria.
O chefe de governo de Gibraltar, Fabian Picardo, disse ter recebido por escrito a promessa do Irã de que a carga do "Grace 1" — 2,1 milhões de barris de petróleo — não será destinada para a Síria, país que está sob embargo da União Europeia (UE).
— Privamos o regime de (Bashar) Al-Assad na Síria de mais de 140 milhões de dólares de petróleo — afirmou Picardo, em um comunicado.
As autoridades solicitaram à Suprema Corte de Gibraltar que suspendesse a captura do barco, em um documento divulgado nesta quinta-feira (15). Em uma audiência durante a tarde, o presidente da Suprema Corte, Anthony Dudley, decidiu, então, que "o barco não estava mais detido".
Inicialmente prevista para acontecer pela manhã, a audiência agendada há duas semanas teve de ser adiada por várias horas, uma vez que, na noite de quarta-feira (14), a Procuradoria gibraltarina anunciou a solicitação dos EUA, pedindo que a retenção fosse prolongada. Dudley, entretanto, negou ter recebido qualquer pedido por escrito.
A "tentativa de pirataria" americana fracassou, celebrou no Twitter o ministro iraniano das Relações Exteriores, Mohammad Javad Zarif, criticando "o nível de desprezo que o governo Trump tem pela lei". Os Estados Unidos "tentaram abusar do sistema judiciário e roubar os bens (iranianos) em alto-mar", acrescentou Zarif.
Distensão
O pedido americano surpreendeu autoridades britânicas, uma vez que o acordo entre os dois países sobre os navios parecia estar bem próximo, após semanas de conversas. O capitão e os três oficiais do "Grace 1", que se encontravam em liberdade sob fiança, foram formalmente liberados.
Em sua nota, Fabian Picardo relata que se reuniu com representantes iranianos em 19 de julho, em Londres, "com a vontade de distensão em relação aos diferentes problemas provocados pela detenção do 'Grace 1'".
— Expliquei muito claramente que a detenção do barco estava exclusivamente vinculada à aplicação das sanções contra a Síria — assegura.
O "Grace 1" foi capturado em 4 de julho pela polícia de Gibraltar e por forças especiais britânicas, o que provocou uma crise diplomática entre o Irã e o Reino Unido. O governo iraniano acusou o britânico de "pirataria" e garantiu que seu petroleiro navegava em águas internacionais.
Em 19 de julho, no Estreito de Ormuz, o Irã reteve o cargueiro britânico "Stena Impero", alegando que desrespeito do "código marítimo internacional". A decisão foi vista como uma medida de represália pelos analistas.
Nesta quinta, o Reino Unido voltou a pedir a Teerã que libere sua embarcação.
— Não há comparação, nem relação entre a captura, ou o ataque de navios comerciais por parte do Irã no Estreito de Ormuz e a aplicação de sanções europeias contra a Síria pelo governo de Gibraltar — declarou um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores.
Nos documentos publicados nesta quinta, o governo de Gibraltar reafirma sua convicção de que o "Grace 1" se dirigia para a Síria. O plano de navegação do barco mostrava "uma rota completamente marcada, do golfo Pérsico até Baniyas, na Síria", afirma.
No início de julho, o chefe da diplomacia espanhola, Josep Borrell, afirmou que a captura foi feita a pedido dos Estados Unidos. A imobilização do petroleiro e o aumento das tensões diplomáticas ofuscaram os esforços dos Estados europeus para salvar o acordo nuclear com o Irã. Os Estados Unidos se retiraram deste pacto no ano passado, impondo duras sanções contra Teerã.