O grupo autointitulado Estado Islâmico (EI) reivindicou, neste domingo (18), a autoria do atentado suicida que deixou pelo menos 63 mortos e 182 feridos na noite de sábado (17), em uma festa de casamento em Cabul, capital do Afeganistão.
"Ontem (sábado) o irmão suicida Abu Assem al-Pakistani [...] conseguiu ferir um grande grupo [...] de apóstatas em Cabul, ao detonar seu cinturão quando estava no meio da multidão", declarou o grupo extremista em um comunicado enviado no aplicativo Telegram. "Depois da chegada de membros da segurança, os mujahedines detonaram um carro-bomba", completou.
Composto por islamistas radicais sunitas, o EI já atacou a comunidade xiita do Afeganistão em diferentes ocasiões. Este era o caso da família dos noivos.
Os talibãs negaram imediatamente qualquer envolvimento no atentado.
"Os talibãs não podem se eximir de qualquer responsabilidade, já que servem como plataforma dos terroristas", reagiu o presidente afegão, Ashraf Ghani, que classificou o atentado como "bárbaro", cometido na véspera do centenário da independência do país.
Cena de massacre
— Às 22h40min locais (cerca de 15h de Brasília), ocorreu uma explosão no salão de casamentos Shar Dubai, no oeste de Cabul — informou à imprensa o porta-voz do Ministério do Interior, Narrat Rahimi, compartilhando no Facebook imagens, nas quais se veem o que parecem ser muitos corpos.
— Entre as vítimas, há mulheres e crianças — disse Rahimi, confirmando que o ato foi cometido por "um homem-bomba que detonou seus explosivos".
— Os participantes dançavam e celebravam quando houve a explosão — contou um convidado ferido nos braços e no abdômen.
— Era o caos, uma cena de massacre, uma carnificina — relatou outro ferido, de 22 anos, em conversa no hospital. Segundo Hameed Quresh, que perdeu um dos irmãos na tragédia, havia mais de mil convidados.
Mohamad Farhag disse que estava na área reservada às mulheres quando ouviu uma forte explosão na zona destinada aos homens.
— Todo mundo correu para fora, gritando e chorando — relatou. — Durante 20 minutos, a sala ficou cheia de fumaça. Quase todo o mundo na seção de homens estava morto, ou ferido.
— Transformaram minha felicidade em desgraça. Perdi meu irmão, meus amigos e minha família. Nunca mais poderei ser feliz — desabafou o noivo, Mirwais, em entrevista a uma emissora de televisão local. — Ontem, os convidados chegaram sorridentes ao meu casamento e depois estávamos retirando os corpos.
Ao amanhecer, o salão de festas tinha as janelas quebradas, o teto implodido, e o chão estava cheio de manchas de sangue. Na entrada, uma pilha de sapatos deixados para trás no momento do pânico.
Os enterros já começaram a ser organizados, como mostravam emissoras locais. Em um dos funerais, uma mesma família se despedia de 14 de seus entes queridos.
Os casamentos no Afeganistão são eventos multitudinários, com centenas, ou até milhares, de convidados comemorando juntos a cerimônia em salões de dimensões industriais. Em geral, os homens ficam separados de mulheres e crianças.
Os insurgentes atacam periodicamente estas festas, vistas como alvos fáceis por terem mínimas medidas de segurança.
Crime contra a humanidade
No Twitter, o primeiro-ministro afegão, Abdullah Abdullah, condenou o "atentado terrorista" e se solidarizou com as famílias. "Este ataque hediondo e desumano é um crime contra a humanidade", denunciou.
"É doloroso ver como o mundo fecha os olhos para o sofrimento do povo afegão", tuitou o chefe de gabinete dos serviços secretos do país, Rafi Fazil.
O porta-voz do governo, Feroz Bashari, afirmou que a explosão era "um sinal claro de que os terroristas não podem ver os afegãos expressando felicidade". "Não podem dobrá-los matando-os. Os encarregados pelo ataque desta noite vão responder por isso", escreveu.
Representantes de embaixadas e missões da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e da ONU instaladas no Afeganistão enviaram mensagens de pêsames e condenaram o atentado.
De acordo com a ONU, julho foi o mês mais sangrento desde maio de 2017, com mais de 1,5 mil civis feridos, ou mortos, no país. Em 2018, 3.804 civis morreram, incluindo 900 crianças.
Além deste massacre, no sábado pela manhã, um carro de passeio voou pelos ares ao passar sobre uma mina artesanal colocada em uma estrada da província de Balkh. Seus 11 passageiros, todos da mesma família, morreram na explosão, anunciou o governador do distrito de Dawlat Abad, Mohamad Yossuf.