Uma foto divulgada pelo jornal El País, nesta quarta-feira (3), mostra a mala com 39 quilos de cocaína que foi apreendida com um militar da Aeronáutica brasileira na Espanha, no último dia 25. A droga estava dividida em 37 pacotes — 36 protegidos por uma fita bege e um deles envolto em papel amarelo — e foi encontrada durante o controle aduaneiro realizado no aeroporto de Sevilha.
O sargento Manoel Silva Rodrigues, 38 anos, integrava a comitiva de militares que prestava apoio à viagem do presidente Jair Bolsonaro para a cúpula do G20 no Japão. O militar estava em um avião Embraer 190, do Grupo Especial de Transporte da FAB, que fez uma escala na cidade espanhola.
A ausência de qualquer forma de disfarce e a despreocupação do militar chamam atenção. Segundo o jornal, além da mala com cocaína, Rodrigues transportava apenas um porta-terno quando foi detido no serviço aduaneiro do aeroporto.
O sargento deve ser investigado pelo crime de tráfico de drogas. O Código Penal espanhol descreve o delito como crime contra a saúde pública.
Na terça-feira (2), o presidente Jair Bolsonaro informou que uma equipe do governo brasileiro será enviada à Espanha para interrogar o militar, preso desde então. A iniciativa faz parte de inquérito policial instaurado pelo Comando da Aeronáutica para apurar se o militar tem envolvimento com quadrilhas de tráfico internacional.
O inquérito militar, instalado na quarta-feira (26), tem prazo de 40 dias, prorrogáveis por mais 20 dias, para concluir a investigação. Nos bastidores, a aposta da cúpula militar é de que o sargento foi pago para transportar o material para a Espanha, onde o entregaria para um grupo criminoso.
O consulado-geral do Brasil em Madri tem prestado assistência consular ao militar, mantendo contato com o acusado e com seus familiares. O governo espanhol também designou um advogado de defesa para ele.
Após o apreensão, a rota de Bolsonaro foi alterada e a agenda oficial do presidente no site do Planalto passou a mostrar Lisboa como local de escala e não mais Sevilha. A assessoria do presidente não explicou o motivo da mudança.
A FAB já afirmou que não é possível confirmar se Rodrigues foi revistado antes de embarcar na aeronave. O argumento é de que o tema está sob sigilo por fazer parte da investigação.
O procedimento de segurança adotado pela Força Aérea para missões de traslados prevê vistorias antes do embarque, como a inspeção de passageiros e bagagens. Entretanto, segundo relatos de integrantes do governo feitos à Folha, raramente a tripulação de suporte é submetida a revista policial ou a detectores de metais antes do embarque no Brasil.
O ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, já disse que as Forças Armadas não admitirão que um "criminoso" faça parte delas e que o sargento será julgado sem condescendência tanto pela justiça brasileira como pela espanhola.
— Não vamos admitir criminosos entre nós. Neste caso, houve quebra de confiança e a confiança é própria da cultura militar. Esse lamentável caso é fato isolado no seio dos integrantes das Forças Armadas, que gozam dos mais elevados índices de credibilidade junto à população brasileira — disse.