O ex-presidente argentino Fernando de la Rúa morreu nesta terça-feira (9), aos 81 anos, em decorrência de uma doença cardíaca. No início do ano, fez uma cirurgia para colocar três stents. Depois, passou por uma traqueostomia.
Encontrava-se, desde então, internado na clínica Fleming, em Buenos Aires. Na segunda-feira (9), a equipe médica que cuidava do ex-mandatário informou que seu estado era "muito grave, com uma descompensação cardíaca e renal". Também afirmaram que De la Rúa, sedado, passara a respirar por meio de aparelhos. Além dos problemas cardíacos, ele fazia tratamento oncológico.
Nascido em Córdoba, governou o país de 10 de dezembro de 1999 a 21 de dezembro de 2001. Foi o mais recente governante argentino proveniente da União Cívica Radical, partido histórico no país e que hoje integra a base de apoio da aliança governista Cambiemos, do atual presidente, Mauricio Macri.
De La Rúa também foi o protagonista de uma das maiores crises político-econômicas da história argentina.
Tanto que a imagem mais famosa relacionada a ele é a de sua saída da Casa Rosada, de helicóptero, poucos momentos depois de renunciar, pressionado por inquietação social que causou 39 mortes e deixou mais de 400 feridos.
Terminava aí sua participação na imensa tormenta que tomou o país naquela época e que prosseguiu por meses. A economia argentina se recuperaria apenas anos depois.
O início da crise já havia ocorrido no fim do governo de seu antecessor, o peronista Carlos Menem (1989-1999), famoso pela política neoliberal de amplas privatizações e imposição da Lei da Convertibilidade, que fazia com que um peso valesse um dólar.
No começo, o plano deu certo, com redução da inflação e grande satisfação popular. Produtos importados e passagens aéreas, por exemplo, tornaram-se acessíveis à população.
O modelo, porém, não se sustentou, porque dependia de grande entrada de dólares no país. A princípio, esses vieram, principalmente, por meio das privatizações. Depois, passaram a escassear, causando aumento da dívida externa.
Tudo isso explodiu nas mãos de De la Rúa e de seu chefe da economia, Domingo Cavallo, que havia sido ministro de Menem e depois foi convocado às pressas no fim do mandato de De la Rúa para tentar resolver o que já não tinha remédio.
Veio então o "corralito", ou seja, a tentativa de conter a retirada em massa de dinheiro dos bancos por parte dos cidadãos, que viam a desvalorização do peso se aproximar.
A tensão nas ruas aumentou. Protestos violentos danificaram carros, lojas e portas de bancos. Popularizou-se o grito de "que se vayan todos" (que todos vão embora).
De la Rúa tentou conter a turba anunciando toque de recolher e colocando as forças de segurança a cavalo para reprimir manifestantes nas ruas e na Praça de Maio. Com a situação insustentável, renunciou, lançando a Argentina em mais de uma década de incertezas.
Eleito por uma aliança de partidos de centro e centro-direita, começou o mandato com bastante apoio popular, tendo sido antes chefe de governo da cidade de Buenos Aires.
Depois de sua renúncia como presidente, porém, retirou-se da vida pública e, ao voltar para a Argentina, passou a responder na Justiça por questões relacionadas ao seu mandato.
A principal delas foi a acusação de ter pago subornos ao Senado para aprovação de leis. A outra, pelas mortes na repressão policial nas turbulências de 2001. Foi absolvido em ambos os processos.
Diferentemente de outros ex-líderes do país e figuras desta época, como Carlos Menem e os ex-ministros Roberto Lavagna e o próprio Cavallo, De la Rúa não voltou a almejar cargos públicos, deu poucas entrevistas e era visto apenas em algumas ocasiões formais, como posses de presidentes.
Sua última aparição pública ocorreu na cúpula do G20 de Buenos Aires, no fim de 2018, quando assistiu ao concerto no Teatro Colón no qual Macri foi o anfitrião dos líderes internacionais convidados.