A chefe de governo de Hong Kong, Carrie Lam, declarou nesta terça-feira (9) que o projeto de lei sobre as extradições para a China, que provocou uma onda de protestos, está "morto", mas se negou a anunciar a retirada do texto, como exigem os manifestantes.
— Seguem existindo dúvidas sobre a sinceridade do governo, e preocupações sobre o fato de que o governo possa relançar o processo junto ao Conselho Legislativo [Parlamento local]. Assim, gostaria de repetir aqui que não existe plano. Este projeto de lei está morto — garantiu Lam.
A ex-colônia britânica está há semanas mergulhada em uma profunda crise política, desencadeada pela rejeição ao texto, com grandes protestos e até confrontos entre policiais e manifestantes radicais.
O governo já havia anunciado a suspensão do projeto, mas isto não bastou para acalmar a situação, e o movimento se tornou mais amplo para exigir reformas democráticas e deter a erosão das liberdades neste território semiautônomo, que voltou ao controle da China em 1997.
Lam, favorável a Pequim, esteve praticamente desaparecida nas últimas semanas.
Nesta terça-feira, durante uma coletiva, Lam pronunciou seu discurso mais conciliador até o momento, reconhecendo que as tentativas de seu governo para aprovar o projeto de lei resultaram em um "fracasso total".
Lam aceitou se reunir com representantes dos estudantes contestatários em público e sem condições prévias, e reconheceu que Hong Kong, um centro financeiro internacional, enfrenta desafios sem precedentes.
— Cheguei à conclusão de que há problemas fundamentais profundos em nossa sociedade — declarou a chefe de governo. — São problemas econômicos, de condições de vida e de divisões políticas no seio da sociedade. Devemos identificar estes problemas fundamentais e encontrar soluções para avançar — acrescentou.
Mas Lam não aceitou algumas das exigências dos manifestantes, começando pela retirada total do projeto sobre as extradições:
— Em certa medida, se retirássemos o projeto hoje poderia voltar ao Conselho Legislativo em três meses. Talvez a população queira escutar algo mais determinante e decisivo. Então digo que o projeto de lei está morto.
O Fórum Civil Pelos Direitos Humanos, grupo-chave nas manifestações, rejeitou as declarações de Lam e prometeu novos protestos.
— Se Carrie Lam e seu governo permanecem sem escutar nossas reivindicações, o Fórum Civil seguirá celebrando protestos e assembleias — disse à imprensa sua porta-voz, Bonnie Leung.
As manifestações exigem a anulação total do projeto sobre as extradições, uma investigação independente sobre a atuação da polícia, anistia para os detidos e a renúncia de Carrie Lam, próxima a Pequim.