Quase cem pessoas morreram em um ataque noturno contra um vilarejo da etnia dogom em Sobane-Kou, no centro do Mali, no último episódio de violência comunitária que atinge a região, disseram as autoridades nesta segunda-feira (10).
Não houve reivindicação imediata do massacre, mas carrega a marca dos ataques étnicos "olho por olho" que já cobraram centenas de vidas na área.
— Neste momento contabilizamos 95 civis mortos. Os corpos estão queimados, e continuamos procurando outros — disse à AFP um funcionário público do distrito de Koundou, onde está localizado o vilarejo de Sobane-Kou que tinha cerca de 300 habitantes.
Segundo o governo, muitos animais foras massacrados, e as casas, incendiadas.
"Homens armados, suspeitos de ser terroristas, lançaram um ataque assassino contra este vilarejo pacífico", afirmou o governo em um comunicado. Uma fonte de segurança maliense no local do massacre disse que o "vilarejo dogom foi quase inteiramente destruído".
Um sobrevivente que deu seu nome como Amadou Togo explicou que "cerca de 50 homens fortemente armados chegaram em motocicletas e caminhonetes":
— Primeiro rodearam a aldeia e depois atacaram, e qualquer um que tentava escapar era assassinado. Algumas pessoas tiveram o pescoço cortado ou foram estripadas, celeiros e gado foram queimados. Ninguém se salvou... mulheres, crianças, idosos.
Togo acrescentou:
— Contabilizamos 95 mortos e 38 feridos, e cerca de 20 desaparecidos.
O norte do Mali vive desde 2012 episódios regulares de violência ligados a grupos jihadistas. Zonas inteiras do país ainda escapam ao controle das forças malinenses, francesas e da Organização das Nações Unidas (ONU), apesar da assinatura em 2015 de um acordo de paz para isolar os extremistas.
A violência se concentra sobretudo no centro do país, com conflitos intercomunitários, um fenômeno vivido igualmente em Burkina Faso e Níger.
Em 23 de março, em Ogossagou, perto da fronteira com Burkina Faso, 160 pessoas da etnia peul foram mortas supostamente por grupos de caçadores dogons.
A associação de caçadores dogom Dan Nan Ambassagou, oficialmente dissolvida pelo governo em 24 de março, após o massacre de Ogossagou, condenou o "ato terrorista e genocida intolerável", afirmando que "considera este ataque como uma declaração de guerra".
O grupo, que havia negado qualquer participação no massacre de Ogossagou, mas que rejeitou sua dissolução e se negou a "abandonar as armas", reitera sua "disponibilidade" às populações para "garantir sua segurança" perante as carências do Estado e da comunidade internacional.
Desde o surgimento, em 2015, no centro do Mali, do grupo extremista islâmico de Amadou Koufa, recrutando prioritariamente pessoas da etnia peul, tradicionalmente criadores de animais, os confrontos aumentaram entre esta comunidade e as etnias bambara e dogom, praticantes de agricultura, que criaram seus próprios "grupos de autodefesa".