Já devastado no último dia 14 pelo ciclone Idai, Moçambique foi atingida pelo mesmo fenômeno exatamente uma semana depois — na quinta-feira (25) — dessa vez, sendo apelidado de ciclone Kenneth. Uma portaria assinada pelo ministro da Justiça Sergio Moro, publicada na sexta-feira (29) no Diário Oficial da União (DOU), autorizou o envio de um grupo de busca e salvamento da Força Nacional de Segurança ao país, constituindo na primeira ação internacional do órgão.
Em entrevista ao Gaúcha+, o comandante da missão em Moçambique, tenente-coronel bombeiro militar Vandernilson Peres da Silva, contou como funciona a operação e qual a situação de Moçambique. Embora fosse previsto que os integrantes se concentrariam na cidade de Beira, o segundo ciclone afetou principalmente o distrito de Macomia, onde atualmente encontra-se o efetivo, segundo o tenente Peres.
— A equipe brasileira é formada pelo contingente da Força Nacional e pelos bombeiro de Minas Gerais. Nós temos 20 (membros) da Força Nacional e 20 bombeiros de Minas. (...) Hoje (terça-feira, 30) ficamos aqui durante todo o dia e fizemos aproximadamente o resgate de 720 pessoas.
Ainda de acordo com Silva Peres, todos os agentes que participam da ação atuaram no rompimento da barragem em Brumadinho:
— Todos nós já nos conhecemos de lá, da operação Brumadinho, e todos têm essa expertise em trabalho em resgate de pessoas em áreas inundadas, em intervenção em área de deslizamento de terra.
Ouça, abaixo, áudio da entrevista na íntegra:
Questionado sobre a realidade do país, o tenente afirmou que a cidade de Beira — principal atingida pelo Idai — está retornando já à normalidade. No entanto, em relação a Macomia, atingida pelo segundo fenômeno, o militar afirmou acreditar que pelo menos 90% do distrito está sem energia.
— Muitas pontes foram danificadas, muitas casas foram destelhadas, então muitas famílias estão desabrigadas. Vias foram obstruídas, evitando a passagem de caminhões, de carros. Então, assim, para voltar à normalidade vai demorar muito aqui em Moçambique — disse.
Peres da Silva ressaltou que as condições meteorológicas ainda estão ruins. Por volta da meia-noite de segunda-feira (29), foi preciso que os agentes saíssem da barraca onde deveriam dormir por conta de fortes ventos, sendo necessário inclusive cuidar para que nenhuma árvore caísse neles. A situação difícil, no entanto, é amenizada pelo comportamento do povo moçambicano:
— O que tem muito similar ao povo brasileiro é que eles superam obstáculos. Eles, com toda a dificuldade, mantêm a alegria, daí isso contagia a gente aqui. Então, apesar das dificuldades, da pobreza, a gente faz o máximo aqui para ajudá-los — afirmou o militar.
Os agentes devem retornar para Beira no próximo dia 4. A estimativa é que, no dia 6 de maio, eles voltem ao Brasil.