Depois de apresentar queda em 2017, o desmatamento na Amazônia voltou a subir neste ano. É o que indica um monitoramento paralelo ao do governo feito pela ONG Imazon, que divulga mês a mês alertas sobre perda da vegetação. Segundo a organização, esses avisos aumentaram 39% de agosto do ano passado a julho deste ano, na comparação com o período de agosto de 2016 a julho de 2017.
Por ser feito com uma metodologia diferente da usada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) — órgão responsável pelo Prodes, o sistema que fornece os dados oficiais de desmatamento na Amazônia —, o monitoramento da Imazon não costumava ser comentado pelo governo. Mas, em geral, ele aponta uma tendência do que está acontecendo no campo.
Em 2017, a Imazon indicou que o desmatamento tinha caído 21%, dado que chegou a ser comemorado pelo então ministro de Meio Ambiente, Sarney Filho. Em outubro o governo anunciou que de fato houve uma queda de 16%.
O valor depois foi corrigido para uma redução real de 12%. A perda total da Amazônia entre agosto de 2016 e julho de 2017 foi de 6.947 km, contra 7.893 km no período anterior.
O Ministério do Meio Ambiente disse, desta vez, que os dados da Imazon e do Inpe indicam tendência completamente diferente. Para isso, citou os números dos três últimos anos. Em 2015, Imazon mostrou alta de 215% e o valor oficial foi de 4%, alta de 97% contra 27% (2016) e queda de 21% contra queda real de 12% (2017).
— Nossos alertas são uma espécie de termômetro do que está acontecendo. Hoje temos um sistema mais refinado, com resoluções compatíveis com as do Prodes, o que nos dá um nível de certeza maior — rebateu Carlos Souza Jr., um dos responsáveis pelo Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Imazon.
De acordo com o sistema, que monitora uma área menor da Amazônia Legal do que faz o Inpe, houve o corte raso (quando a terra é desmatada totalmente) de 3.949 km de agosto de 2017 a julho de 2018 contra 2.834 km no período anterior.
A ONG também aponta uma alta de 224% na degradação da floresta, com atividades como exploração de madeira e queimadas. Considerando a margem de erro, Souza diz que a taxa de desmatamento oficial deste ano pode ficar perto da do ano passado ou acima dos 7 mil km.
Metas
Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (24), duas semanas depois de o governo federal ter anunciado que já conseguiu cumprir suas metas de emissões de gases de efeito estufa previstas para 2020.
O feito teria sido possível, de acordo com o Meio Ambiente, por causa da queda do desmatamento observada no ano passado.
Um trabalho científico publicado em julho na revista Nature Climate Change, porém, trouxe conclusões na direção oposta. Pesquisadores da UFRJ e da UFMG calcularam que, se o desmatamento da Amazônia e do Cerrado seguir a tendência de alta observada nos últimos cinco anos, piorando a contribuição do Brasil ao aquecimento global, outros setores do país terão de compensar essas emissões de gás carbônico. E o custo para a economia pode ser de pelo menos US$ 2 trilhões.