Como já tem se tornado comum, uma visita de Donald Trump a outro país é marcada por polêmica e protesto. Na passagem pelo Reino Unido não foi diferente. O presidente dos Estados Unidos envolveu-se em controvérsia após citar a primeira-ministra Theresa May enquanto milhares de pessoas se manifestavam contra a agenda em Londres. Nesta sexta-feira (13), o americano foi recebido pela rainha Elizabeth II para tomar chá no castelo de Windsor.
Em reportagem do jornal britânico The Sun, que começou a ser divulgada na quinta-feira (12) à noite, quando Theresa oferecia um jantar de gala em homenagem a Trump, o presidente americano disse que Boris Johnson, preterido pelo Partido Conservador na escolha do candidato para buscar assumir Downing Street, seria “um grande primeiro-ministro” e que os planos da primeira-ministra de manter vínculos com a União Europeia após o Brexit impossibilitam um acordo comercial com os Estados Unidos. Declarou ainda tê-la aconselhado a negociar com Bruxelas de um modo, e ela fez o contrário.
A intromissão de Trump sobre o plano de Theresa May para resolver o principal tema doméstico e internacional de seu governo ocorreu em um momento de fragilidade política de Londres.
Até mesmo a oposição defendeu a primeira-ministra.
— É extraordinariamente grosseiro por parte de Trump comportar-se desta maneira — disse a vice-líder do Partido Trabalhista no parlamento, Emily Thornberry.
Anthony Gardner, que foi o embaixador americano na União Europeia durante o governo de Barack Obama, afirmou que as declarações “são um ataque sem precedentes a um aliado durante uma visita oficial”. Trump “está fora de controle e é um constrangimento”, completou.
Na tentativa de acabar com a polêmica, Trump elogiou na sexta-feira Theresa e anunciou que seus países vão buscar acordo de livre-comércio depois do Brexit. Ambos andaram de mãos dadas pelos últimos metros até o pódio da coletiva de imprensa em Chequers, a casa de campo da primeira-ministra nos arredores de Londres
—Faça o que fizer, tudo bem — disse Trump a Theresa. — Esta senhora é uma mulher incrível que está fazendo um trabalho incrível. É uma negociadora durona. Eu a tenho observado nos últimos dois dias, e ela é uma pessoa muito, muito inteligente e determinada.
Sobre a entrevista, negou que tenha feito críticas à premiê:
— Não critiquei a primeira-ministra, tenho muito respeito pela primeira-ministra. Infelizmente, houve uma reportagem que foi feita, que no geral estava boa, mas que não publicou o que eu disse sobre a primeira-ministra e eu disse uma coisa tremenda sobre ela.
Na reportagem do The Sun, Trump demonstrou mágoa com a autorização da prefeitura para que um boneco gigante inflável que o retrata fosse usado em protesto em Londres. O balão de seis metros de comprimento mostra o presidente como um bebê de fraldas e foi exposto a 30 metros de altura na região do parlamento. A agenda do americano tenta evitar concentrações de manifestantes. Pesquisa do instituto YouGov mostra que 77% dos britânicos têm opinião desfavorável a Trump e quase a metade considera que a rainha não deveria recebê-lo. Responsável por organizar o ato, Daniel Jones, que atua em uma instituição de caridade, disse que seu objetivo era fazer as pessoas darem risada:
—Também serve como um incentivo para aqueles na América que resistem a suas políticas.
Milhares de pessoas se reuniram para protestar. “Este é o carnaval da resistência” e “Minha mãe não gosta de você, e ela gosta de todo mundo!” eram alguns dos cartazes carregados pelos manifestantes que avançavam pela Oxford Street com destino à Trafalgar Square.
— Não a Trump, não à Ku Kux Klan, não aos EUA fascistas – gritavam, batendo panelas ou tocando trombetas.
Trump passará o fim de semana em sua propriedade na Escócia.