Tranquilo e participando ativamente das discussões de seus advogados, Paul Manafort, ex-chefe de campanha de Donald Trump, assistiu nesta terça-feira (31) à abertura de seu julgamento, o primeiro causado pela investigação sobre a ingerência russa na corrida presidencial de 2016 nos Estados Unidos.
Manafort, 69 anos, declarou-se inocente em 18 acusações de fraude bancária e fiscal relacionadas com suas atividades de lobby a favor do antigo governo pró-russo da Ucrânia.
O indiciamento decorre da investigação do procurador especial Robert Mueller sobre a ingerência da Rússia na última corrida eleitoral dos EUA, embora as acusações não estejam ligadas ao trabalho de Manafort como chefe de campanha de Trump.
Neste terça-feira, no tribunal de Alexandria, na Virgínia, Manafort fez anotações e chegou a deixar escapar um sorriso em reação às piadas do juiz TS Ellis III. O acusado pareceu ter recuperado a altivez pela qual era conhecido como assessor de poderosos republicanos e líderes estrangeiros.
Veterano consultor político republicano, Manafort liderou por três meses a equipe de campanha de Trump, até ser obrigado a se desligar por sua atividade como lobista da Ucrânia.
Contra ele pesam cinco acusações por declarações de impostos falsas, por não informar o Serviço Interno de Renda sobre contas bancárias no Chipre e em outros países, com o objetivo de ocultar milhões de dólares em rendimentos por suas atividades em favor do ex-presidente ucraniano pró-russo Viktor Yanukovytch.
Também é acusado de fraude bancária relacionada com vários empréstimos milionários obtidos de diferentes bancos.
Reações
Do lado de fora do tribunal, alguns manifestantes anti-Trump se reuniram com cartazes que diziam "Prendam ele", "Está na hora do Mueller" e "Trump não ficaria um segundo na prisão por você". Especialistas legais avaliam que Manafort possa estar esperando ser declarado inocente, ou obter um perdão presidencial.
Jonathan Turley, professor na Faculdade de Direito na George Washington University, considerou que as probabilidades do ex-operador político sair ileso do julgamento não são boas. O júri de 12 membros, seis homens e seis mulheres, foi selecionado depois de quase quatro horas.
Turley considerou que Manafort pode estar apostando "na estratégia do perdão", pois "permaneceu leal" e "pode pensar que não tem muito a perder se for a julgamento diante de suas chances de um perdão" presidencial.
Manafort passou o último mês em uma prisão de Alexandria, no subúrbio de Washington, depois que uma juíza federal revogou sua detenção domiciliar e estabeleceu uma fiança de US$ 10 milhões por suspeita de manipular testemunhas em outro processo em aberto.
Ele deve ir a julgamento em setembro na capital federal por acusações Washington, também apresentadas por Mueller, de conspiração, lavagem de dinheiro e por não se registrar como agente de um governo estrangeiro. Trump classificou de "muito injusta" a detenção de Manafort em junho passado.