O presidente americano, Donald Trump, anunciou nesta sexta-feira (15) a imposição de tarifas de 25%, a US$ 50 bilhões, sobre as importações de produtos chineses que "contenham tecnologias muito importantes no plano industrial".
"Minha formidável relação com o presidente Xi da China e a relação do nosso país com a China são importantes para mim. Mas o comércio entre nossas nações é muito desigual, há muito tempo", justificou Trump, em um comunicado.
O presidente advertiu ainda que "os Estados Unidos imporão novas tarifas, se a China adotar medidas de represália, tais como novas tarifas sobre bens americanos, sobre serviços, ou produtos agrícolas".
"Essas tarifas são essenciais para prevenir outras injustas transferências de tecnologia americana e de propriedade intelectual para a China, protegendo empregos nos Estados Unidos", completou.
Pequim já reagiu, e o Ministério chinês do Comércio anunciou que vai impor as mesmas tarifas aos EUA, em retaliação. Também convocou os demais países a adotarem uma "ação coletiva" contra esse "obsoleto e retrógrado comportamento" de Washington.
"Vamos lançar imediatamente medidas tarifárias de mesma escala e mesma força", declarou o Ministério chinês do Comércio, em um comunicado divulgado em sua página on-line institucional.
O anúncio coroa meses de árduas negociações entre Washington e Pequim, nas quais as ofertas chinesas não conseguiram satisfazer as exigências de Trump relacionadas ao crescente déficit comercial com a potência asiática.
A data-limite para publicar esta lista colocava Trump em uma encruzilhada diplomática: por um lado, precisa de Pequim para fazer seus esforços na desnuclearização da Coreia do Norte avançarem, mas, ao mesmo tempo, enfrenta todos seus aliados em uma quase declarada guerra comercial.
O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, chegou a trocar duras palavras com o chanceler chinês, Wang Yi, em Pequim, depois que Wang disse a Washington para evitar uma estratégia "perdedora" no comércio entre ambos os países.
"Se os Estados Unidos adotarem medidas protecionistas unilaterais que afetem os interesses chineses, então reagiremos de imediato e tomaremos as medidas necessárias para proteger nossos direitos e interesses legítimos", reafirmou Geng Shuang, porta-voz da diplomacia chinesa, em entrevista coletiva nesta sexta.
Segundo Dennis Wilder, um especialista no Sudeste Asiático da Georgetown University, porém, "assistimos a um processo de negociações, no qual a equipe de Trump descobriu que continuar pressionando a China lhe traz cada vez mais melhores resultados".
"Suponho que o governo de Trump anunciará a lista, mas não a porá em prática", para, dessa forma, "dar mais tempo à China", disse à AFP este ex-funcionário da CIA na Ásia antes do anúncio.
Desses US$ 50 bilhões em produtos, US$ 34 bilhões serão taxados a partir de 6 de julho, afirmou o representante de Comércio americano (USTR, na sigla em inglês), Robert Lighthizer, em um comunicado separado.
"O segundo lote", de US$ 16 bilhões em importações provenientes da China, "será submetido a uma análise adicional" que incluirá um período de consultas e de audiências públicas, acrescentou o USTR.
A lista de produtos "cobre 1.102 linhas de tarifas por um valor de US$ 50 bilhões de valor comercial 2018", completa a nota.
Em março, Trump anunciou que os Estados Unidos imporiam tarifas de US$ 50 bilhões aos produtos chineses. Ameaçou, inclusive, elevar essa cifra para US$ 100 bilhões.
Uma lista de aproximadamente 1.300 produtos chineses foi publicada pelo USTR. Deste total, 70% desses bens pertenciam a três grandes setores: componentes de reatores nucleares, maquinário elétrico e equipamentos ópticos.
Ontem, porém, o canal financeiro de notícias CNBC informou que essa lista seria reduzida para 800, ou 900 produtos.
- Perplexidade chinesa -
Ainda não está claro quando as tarifas entrarão em vigor. No mês passado, a Casa Branca havia informado que a lista final seria anunciada em 15 de junho, e que essas tarifas seriam impostas "pouco depois".
"Acho que os chineses estão confusos com as ações do governo Trump", disse Nicholas Lardy, um especialista em economia chinesa do "think tank" Instituto Peterson de Economia Internacional (PIIE).
Trump resguardou o gigante chinês das telecomunicações, ZTE, das sanções que, em abril, ameaçaram deixar a companhia fora do negócio, o que provocou a indignação de alguns republicanos no Congresso. No mês passado, a Casa Branca declarou uma trégua em suas hostilidades comerciais com a China, antes de mudar de opinião semanas depois e retomar o plano das tarifas.
Analistas estimam que os milhões de dólares em tarifas que Washington se prepara para impor à China são inexpressivos em comparação ao tamanho das duas principais economias do globo.
Outros se preocupam, contudo, com o sinal que essa medida envia e seu potencial para prejudicar a economia mundial.
Para Derek Scissors, especialista em economia chinesa do American Enterprise Institute (AEI), que se define como "um crítico frontal da China em matéria comercial", essas tarifas de US$ 50 bilhões em produtos "não mudarão grande coisa".
Alguns analistas apontam que os dois objetivos perseguidos pelo governo americano - que a China apoie um acordo entre Estados Unidos e Coreia do Norte e, ao mesmo tempo, faça concessões econômicas - são incompatíveis.
"O perigo que Trump enfrenta, se for muito longe, é que a China pare de pressionar a Coreia do Norte", afirma Lardy, agora que Pequim restringiu suas relações comerciais com o regime norte-coreano.
* AFP