O líder norte-coreano, Kim Jong Un, e o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, estabeleceram nesta sexta-feira (27) um compromisso com a desnuclearização e prometeram que não haverá mais guerra na península, após uma reunião de cúpula na Zona Desmilitarizada que entrará para a história.
Após um aperto de mão muito simbólico na fronteira, Kim Jong Un afirmou que a Coreia está "no limiar de uma nova história".
Primeiro líder norte-coreano a pisar em solo sul-coreano desde a guerra (1950-1953), ele disse ter ficado emocionado ao cruzar a barreira de cimento de alguns centímetros de altura que demarca a fronteira na cidade de Panmunjom.
"Os dois líderes declaram solenemente diante dos 80 milhões de coreanos e do mundo inteiro que não haverá mais guerra na península coreana e que, em consequência, uma nova era de paz começou", afirma a "Declaração de Panmunjom" publicada após o encontro.
"Coreia do Sul e Coreia do Norte confirmam o objetivo comum de obter, por meio de uma desnuclearização total, uma península coreana não nuclear", acrescenta o comunicado conjunto.
Após a assinatura do texto, Kim e Moon se abraçaram, ao final de um dia de demonstrações de amizade entre os dois homens que compartilharam ao final da tarde um banquete na companhia de suas esposas.
Os dois vizinhos indicaram que vão buscar encontrar os Estados Unidos, talvez também a China, "em vista de declarar o fim da guerra e estabelecer um regime de paz permanente e sólido" na península. Sem tratado, os dois países seguem tecnicamente em guerra.
Nova cúpula
Esta cúpula, prelúdio de um encontro muito esperado entre Kim e o presidente americano Donald Trump, foi elogiada pelos países estrangeiros. Trump saudou a cúpula, ressaltando, contudo, que "o tempo dirá" se os resultados foram bons.
"Depois de um ano furioso em lançamentos de mísseis e testes nucleares, está acontecendo um histórico encontro entre as Coreias do Norte e do Sul", tuitou Trump. "Estão acontecendo coisas boas, mas apenas o tempo dirá", ponderou.
A China ressaltou, por sua vez, a "coragem" de Kim e Moon, enquanto o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe evocou "um passo positivo para uma resolução de uma série de questões envolvendo a Coreia do Norte". O Kremlin comemorou "novidades muito positivas".
As duas Coreias se comprometeram com uma coordenação estreita para garantir que "não se repita a história infeliz que viu os acordos intercoreanos anteriores darem em nada", afirmou Kim Jong Un, cujo comportamento foi observado com atenção pelos telespectadores do mundo inteiro.
– Pode haver contragolpes, dificuldades e frustrações no caminho, mas não se pode alcançar a vitória sem dor –, completou Kim.
Norte e Sul decidiram que Moon retornará a Pyongyang no outono para a quarta cúpula intercoreana.
A reunião de hoje também abordou a questão das famílias separadas pela guerra. Os dois países "decidiram continuar com o programa de reunião de famílias separadas por ocasião do Dia de Libertação Nacional em 15 de agosto deste ano", quando é celebrada a rendição do Japão ao final da Segunda Guerra Mundial
Moon brevemente no Norte
A Coreia do Norte registrou um rápido avanço no programa nuclear e balístico sob o mandato de Kim, que herdou o poder após a morte de seu pai em 2011. Em 2017, Pyongyang realizou o teste nuclear mais potente de sua história e lançou mísseis balísticos intercontinentais (ICBM) com capacidade de atingir o território continental dos Estados Unidos.
As tensões atingiram pontos máximos, enquanto Kim e Trump trocaram ameaças apocalípticas e insultos pessoais.
Moon aproveitou os Jogos Olímpicos de Inverno para lançar o diálogo com Pyongyang, explicando que a cúpula intercoreana serviria de base para a reunião entre o Norte e Washington.
Trump exigiu que o Norte renuncie a suas armas nucleares e que a desnuclearização seja total, verificável e irreversível.
Nesta sexta-feira, num primeiro gesto de descontração, Moon, a convite de Kim, cruzou brevemente a fronteira e pisou no lado norte-coreano.
Os dois homens seguiram a pé até a Casa da Paz, estrutura de vidro e concreto situada na parte sul de Panmunjom, onde foi assinado o armistício.
Pinheiro de 65 anos
– Eu vim aqui determinado a dar um sinal de partida, no limiar de uma nova história –, declarou Kim, cujo país é acusado de violações generalizadas dos direitos humanos. O líder norte-coreano estava acompanhado por Kim Yo Jong, sua irmã e conselheira próxima, bem como por seu chefe de relações intercoreanas.
Moon viajou com o chefe da inteligência sul-coreano e seu diretor de gabinete.
No passado, o conceito de "desnuclearização da península" significava para Pyongyang a partida dos 28.500 militares americanos estacionados no Sul e a retirada do guarda-chuva nuclear americano, algo impensável para Washington.
Kim anunciou recentemente uma moratória sobre os testes nucleares e disparos de mísseis balísticos de longo alcance, afirmando que suas metas haviam sido alcançadas.
Ele também anunciou o fechamento do único local de testes nucleares norte-coreano conhecido. Mas alguns especialistas suspeitam que o último teste, realizado em setembro, teria inutilizado as instalações.
Kim e Moon também "plantaram" simbolicamente uma árvore perto da Linha de Demarcação Militar. Eles jogaram algumas pás de terra sob um pinheiro de 65 anos, como no armistício. Em seguida, Moon regou a árvore com água do rio norte-coreano Taedong, enquanto Kim fez o mesmo, mas com água do rio sul-coreano Han.
As duas primeiras cúpulas intercoreanas, em 2000 e 2007, aconteceram em Pyongyang.