Os partidos separatistas catalães obtiveram juntos, nesta quinta-feira (21), maioria absoluta no Parlamento regional, em eleição que contou com a participação de 80% dos cidadãos. Apesar da vitória individual do Cidadãos (partido anti-separatista), as legendas secessionistas já somavam 70 cadeiras após a apuração de 84,3% dos votos — duas acima da maioria absoluta de 68 dos 135 assentos da Câmara —, quantidade necessária para indicar o próximo presidente catalão.
Como ocorreu em 2015, os independentistas se beneficiaram do sistema eleitoral, que recompensa o voto rural, e alcançarão a maioria absoluta sem ter 50% dos votos dos mais de 5 milhões de catalães chamados às urnas.
A vitória dos separatistas, se confirmada, supõe um golpe para o presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, que interveio na autonomia catalã após a frustrada proclamação de independência de 27 de outubro, e convocou essas eleições nas quais o Partido Popular só alcançou quatro deputados, em comparação com os 11 que tinha.
Também questiona a decisão do vice-presidente catalão deposto, Oriol Junqueras, do ERC, que preferiu ficar na Espanha e enfrentar a Justiça, e agora está na prisão. Seu partido era favorito nas pesquisas e deve acabar em terceiro lugar.
Sem incidentes
As eleições transcorreram sem incidentes apesar da tensão acumulada em dois meses de impasse, em um dia frio, mas ensolarado na Catalunha. Pela primeira vez em décadas, as eleições ocorreram em um dia de trabalho, o que provocou filas nas seções no início e no fim do dia.
As vestimentas amarelas eram vistas aos montes, a cor escolhida para protestar pela prisão de parte dos líderes independentistas.
O presidente deposto da região, Carles Puigdemont, acompanhou a contagem de Bruxelas junto aos membros de seu governo.
— Não é normal este dia com candidatos na prisão e no exílio (...) Ainda assim, é um dia muito importante, não para a Catalunha de hoje, mas para a Catalunha do futuro.
O referendo de separação de 1º de outubro, proibido pela Justiça e duramente reprimido pela polícia, precipitou os acontecimentos: no dia 27 daquele mês, o Parlamento catalão proclamou a independência e horas depois o governo regional de Puigdemont foi destituído pelo Parlamento espanhol.
Rajoy convocou simultaneamente as eleições desta quinta-feira (21) e a Justiça prendeu parte dos líderes separatistas, enquanto outros foram para a Bélgica.