Nesta sexta-feira (27), o parlamento catalão aprovou a independência da Espanha. Pouco depois, o Senado espanhol determinou a intervenção na autonomia regional, e o chefe de governo espanhol, Mariano Rajoy, anunciou a destituição do presidente catalão e de seu Executivo.
Entenda episódios recentes e os fatos históricos que explicam a escalada de tensão na região:
1. Onde fica
Com 7,5 milhões de habitantes, a Catalunha é uma região ao norte da Espanha, que possui um governo regional, o Generalitat, com suas próprias instituições, entre elas, a polícia (os Mossos d'Esquadra) e a Suprema Corte. A região também fala outro idioma, o catalão, com significativas diferenças em relação ao espanhol.
2. Histórico
O desejo de se separar da Espanha aflorou na metade do século XIX. Nos anos 1930, a Catalunha conseguiu autonomia política na Espanha e tentou declarar a independência de forma unilateral. Contudo, em 1936, com um golpe militar e com a Guerra Civil espanhola, o general Franco tomou o poder do país e o manteve por 40 anos. Com a morte do ditador, a democracia ressurgiu na Espanha e a nova Constituição restituiu a autonomia política da região. A partir daí, o partido majoritário foi quase sempre o nacionalista.
3. O caminho para o referendo
Em 2010, durante grave crise econômica na Espanha, as manifestações pró-independência da Catalunha se tornaram cada vez mais frequentes. Entre tentativas frustradas de separação ao longo dos anos e a militância daqueles que a defendem, as discussões se encaminharam até o dia 7 de setembro deste ano, quando os partidos independentistas aprovaram uma lei para convocar o referendo de autodeterminação no dia 1º de outubro.
Para os separatistas, transformar a Catalunha em um país significa a chance de reforçar a cultura própria da região, além de não precisar adotar as políticas de Madri, principalmente as relacionadas a questões econômicas.
4. O líder catalão
O presidente catalão é Carles Puigdemont, jornalista de 54 anos, que, desde a sua juventude, milita pela independência da região. Desde que assumiu o cargo, no começo de 2016, prega pelo referendo. Cabe salientar que, embora seja chamado de "presidente", trata-se de um cargo regional, como um governador no Brasil.
5. Os argumentos de Madri
Segundo o governo espanhol, o referendo é ilegal: ele viola a Constituição de 1978, que estabelece que a Espanha é indivisível. Desde o início do movimento, as autoridades espanholas já efetuaram prisões de políticos envolvidos na organização da votação e a apreensão de material de campanha.
6. Votos e violência
Depois de vários dias de tensões crescentes, milhares de catalães foram aos centros eleitorais para um referendo de autodeterminação em 1º de outubro. Durante o dia, as forças de segurança entram nas assembleias de voto, em alguns casos arrombando portas, para expulsar as pessoas presentes, fazendo uso inclusive de disparos de balas de borracha. Pelo menos 92 pessoas ficaram feridas. O governo separatista afirma que o "sim" ganhou com o voto de cerca de 90% dos 2,26 milhões de eleitores (42,3% de participação). Os partidos que se opõem à independência boicotaram a consulta popular.
7. As repercussões
Os dias seguintes ao referendo foram marcados por grandes manifestações, em todo o país, a favor e contra a independência da Catalunha.
A Bolsa de Valores de Madri sofreu quedas. Mais de 150 empresas, em média, deixam a Catalunha por dia. O governo espanhol adverte que a crise catalã afetará a economia, antecipando uma redução em sua previsão de crescimento até 2018.
8. O impasse
Em 10 de outubro, em uma confusa sessão do Parlamento catalão, Puigdemont assumiu "o mandato da Catalunha para se tornar um Estado independente sob a forma de uma República", mas pediu a suspensão "dos efeitos da declaração de independência". O governo espanhol repudiou a declaração implícita de independência. No dia seguinte, o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, envia um requerimento a Puigdemont para que esclareça oficialmente se proclamou a independência, um primeiro passo para a aplicação do artigo 155 da Constituição, que permite a intervenção em um governo autônomo se este desobedecer a lei.
9. Prisão de separatistas
A tensão não diminui. No dia 16, os líderes das duas principais organizações separatistas, Jordi Sánchez e Jordi Cuixart, são enviados à prisão pelo crime de sedição. Cerca de 200 mil pessoas exigem em Barcelona a libertação de Cuixart e Sanchez, considerados "prisioneiros políticos".
10. A declaração de independência
O Parlamento catalão aprovou na manhã desta sexta-feira (27) a independência da Catalunha, a organização de um novo Estado em forma de república e a abertura de um processo constituinte. A resolução pela independência foi aprovada por 70 votos favoráveis, 10 contrários e dois em branco. As bancadas de oposição (PSC, Ciudadans e PP) retiraram-se do plenário antes do início do pleito.
11. Reação de Madri
Pouco depois, o Senado espanhol aprovou (por 214 votos a favor, 47 contra e uma abstenção) a intervenção na autonomia regional — que foi solicitada por parte do governo central. A aplicação do artigo 155 da Constituição do país foi evocada para suspender a autonomia da Catalunha e destituir o líder regional. O dispositivo interfere ainda no governo da região autônoma.
Mariano Rajoy anunciou nesta sexta-feira a destituição do presidente catalão e de seu Executivo, bem como a convocação de eleições regionais para 21 de dezembro,
A declaração de independência catalã é criticada na União Europeia. Presidente da Comissão Europeia afirma que "a UE não precisa de mais divisões".