Os catalães decidem na quinta-feira se os separatistas devem voltar ao poder, do qual foram expulsos quando a região ficou sob tutela de Madri, em outubro. A seguir, os cenários possíveis das eleições regionais.
- Revolução antinacionalista -
O partido liberal e anti-independentista Cidadãos poderá vencer as eleições regionais, apesar de sua pouca experiência política.
"Seria algo histórico", segundo um membro do partido separatista de esquerda Esquerra Republicana de Catalunya (ERC).
O catalanismo tem sido a ideologia dominante na Catalunha nas últimas quatro décadas, durante as quais a região teve um único presidente não nacionalista, o socialista José Montilla, que chegou ao poder por um acordo de coalizão com separatistas e eco-comunistas.
Caso obtenha a vitória, a chefe do Cidadãos na Catalunha, Inés Arrimadas, de 36 anos, promete dialogar para superar a divisão na sociedade catalã.
Os grandes empresários considera a jovem liberal uma garantia de estabilidade e prosperidade.
- Vitória de Carles Puigdemont -
Exilado em Bruxelas, o presidente catalão destituído que prometia não buscar mais de um mandato pretende liderar uma "lista transversal", a Juntos pela Catalunha, para "recuperar a dignidade dos catalães humilhados" pela tomada de controle da região pelo governo espanhol.
Sua vitória seria um golpe para o chefe do executivo espanhol, Mariano Rajoy, que o destituiu.
Mas sobre ele pesa uma ordem de prisão por rebelião, sedição e malversação de fundos públicos. Ele poderá usar uma possível prisão ao voltar de Bruxelas como prova da "política repressiva" de Madri.
Seus seguidores esperam que uma vitória force Rajoy a negociar.
- Separatismo de Oriol Junqueras -
ERC, o partido do vice-presidente destituído e preso Oriol Junqueras, lidera as pesquisas em número de assentos.
Se vencer e o Parlamento o empossar como presidente regional, poderia continuar em prisão preventiva e a gestão do dia-a-dia seria assegurada por Marta Rovira, a secretária-geral.
Se investido, implementaria uma política social para "expandir a base" do movimento de independência, que nas eleições de 2015 obteve o apoio de 47,8% dos catalães, assegura uma fonte do ERC.
- Bloqueio e novas eleições -
Todos os cenários anteriores partem, no entanto, do princípio de que um dos três favoritos conseguirá a investidura, com o apoio de outros partidos.
Em todos esses cenários, será fundamental a atuação da Catalunha em Comum, a aliança de esquerda entre a prefeita de Barcelona, Ada Colau, e Podemos.
Os "comuns", aos quais as pesquisas dão entre 8 a 11 assentos, mantêm uma certa ambiguidade que abre as portas a múltiplas coalizões: dizem que não são separatistas, mas defendem um referendo de autodeterminação acordado com Madri.
O temor crescente é que, como aconteceu em toda a Espanha em 2016, haja um bloqueio persistente entre os blocos separatistas e os "espanholistas".
Os separatistas precisarão do apoio do pequeno grupo separatista da esquerda radical CUP, que exige uma ruptura imediata com Madri, descartada pelas outras duas formações soberanistas.
Por outro lado, Arrimadas, mesmo com o apoio dos socialistas e do Partido Popular de Rajoy, poderia não ter apoio suficiente para garantir a investidura.
- A surpresa socialista -
"As probabilidades de bloqueio e novas eleições são muito altas", alerta ainda o cientista político Pepe Fernández-Albertos, a menos que os partidos favoráveis a seguir na Espanha prefiram evitá-lo e deixem governar em minoria o candidato socialista Miquel Iceta, que tem mais "capacidade de diálogo" com os outros partidos.
Um cenário assim já aconteceu em outra região espanhola agitada pelo separatismo, o País Basco, quando dirigido pelo socialista Patxi López, sem maioria, entre 2009 e 2012.
* AFP