"The two evils", na tradução literal, poderia ser alguma referência ao mal (Evil), até poderíamos pensar algo como "os dois males, dois demônios". Mas a expressão americana significa, na verdade, "escolher o mal menor", ou o menos pior. De forma literal ou não, os EUA estão diante de uma escolha difícil. É assim que a população da pequena Johnstown, no interior do Estado de Ohio, costuma se referir a Hillary Clinton e a Donald Trump. A expressão revela o descontentamento de parte dos 4,6 mil habitantes com a campanha eleitoral em 2016. Mais até, denota uma verdadeira rejeição aos únicos candidatos com reais chances de chegar à Casa Branca.
– Pela primeira vez, não tenho vontade de ir votar – revela Anne Lindsberg, atendente de uma loja de bebidas do município, localizado a 30 minutos de Columbus.
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ZH visitou Johnstown nesta quarta-feira para conhecer o que pensa o americano médio do interior de Ohio, um Estado que, com seus 18 delegados no colégio eleitoral, costuma decidir a eleição. Se nas metrópoles como Columbus e Cleveland os democratas são favoritos, é no interior que estão os eleitores capazes de desequilibrar a balança para o lado de Trump. Nas últimas 12 eleições, os republicanos venceram sete vezes em Ohio. Os democratas, cinco – inclusive nas duas últimas, com Barack Obama. Agora, a descrença na política não garante que Hillary herdará os votos do presidente democrata, de quem foi secretária de Estado, nem que o pêndulo se voltará para o lado de Trump. Anne afirma que gostaria de não votar em ninguém, mas acabará optando pelo republicano porque gosta do candidato a vice do partido, Mike Pence.
– Ele vai controlar Trump e ajudar a colocar o país nos eixos – afirma.
Em Johnstown, é comum os moradores exibirem suas preferências na frente de casa, em cartazes cravados na grama do jardim. Durante as três horas em que ZH permaneceu na cidade, viu muitos letreiros de Trump, alguns poucos revelando o voto por candidatos a xerife e procuradores locais (que também são eleitos em alguns Estados) e nenhuma referência a Hillary. A preferência pelo republicano nas casas é um termômetro, mas não garante a eleição. Indecisos fazem toda a diferença.
Na rua principal de Johnstown, há uma grande residência adaptada para servir de oficina mecânica. Os sócios, Chris e Adam Spech, orgulham-se do trabalho na empresa familiar. Eles nos recebe exibindo a ampla residência centenária. Aos 32 anos, Chris repete o apelido "the two evils" para se referir a Trump e a Hillary. Diz que votará em Gary Johnson, do Partido Libertário – no total, há 31 candidatos disputando a presidência, embora apenas Hillary e Trump tenham chances.
– Ele (Johnson) representa o que o Partido Republicano deveria ser de verdade – explica.
Chris admite que a vida melhorou na cidade desde 2008, no auge da crise econômica. Diz que antigas famílias deixaram Johnstown em busca de emprego em grandes cidades, mas outras pessoas vieram. Movimentaram a economia. Há consumo. Enquanto Chris conserta uma caminhonete em uma das garagens, o irmão, Adam, 27, cuida da administração do negócio, que vai bem, segundo eles.
– Gosto de política, mas está difícil escolher entre os dois demônios – brinca Adam.
A alguns metros dali, em um salão de beleza, o tatuador Clint Kiehl também se mostra decepcionado. Ele conta que a família, em geral, é republicana. Na contramão, optou por Obama nas duas últimas eleições, em 2008 e em 2012.
– Sei que muitas pessoas não concordam. Mas ele foi um bom presidente. Pela primeira vez, estou pensando em não votar – afirma.
Romper o ceticismo de eleitores como Clint é o principal desafio de Trump e de Hillary. Como o voto nos EUA não é obrigatório, ter um bom motivo para ir às urnas na terça-feira será determinante para os dois concorrentes.