Ladrões de gado estão levando medo a produtores rurais que possuem propriedades na fronteira do Brasil com o Uruguai, em Santana do Livramento. Na quinta-feira (5), um sistema de monitoramento via GPS flagrou o momento em que quatro homens a cavalo e armados furtaram 20 cabeças. A ação foi acompanhada pelo Grupo de Investigação da RBS (GDI) em tempo real a partir de um grupo de WhatsApp formado por produtores.
De acordo com os pecuaristas, desde o ano passado, foram registrados pelo menos 45 furtos de 850 cabeças de gado, totalizando prejuízo estimado em R$ 2,5 milhões.
— Como a gente está na fronteira seca é muito fácil o trânsito de animais, tanto quanto o trânsito de pessoas. E os bandidos se aproveitam dessa facilidade para efetuar o roubo do gado — diz um pecuarista na reportagem exibida neste domingo (8) no Fantástico, na RBS TV.
Para entender como os bandidos agem, o GDI criou um grupo de WhatsApp entre os quatro produtores mais lesados pelas quadrilhas. Depois de sofrer cinco ataques que resultaram no furto de 50 animais, somando prejuízo de R$ 350 mil, um deles investiu R$ 50 mil em um sistema de monitoramento via GPS, colocado em cem cabeças de gado.
É uma espécie de coleira colocada no pescoço dos animais, que emite um sinal indicando a localização. Na quinta-feira, o sistema disparou um alerta, comunicado ao grupo de mensagens pelo produtor. Ele postou uma imagem em que pontos em vermelho indicavam o gado deixando a propriedade.
— Cada pontinho laranja é uma vaca e dá para ver claramente aqui que o gado foi escapando. Foi quando eu recebi o aviso e fiquei monitorando para onde iam — conta o produtor que contratou o sistema.
Os relatos no WhatsApp
Imediatamente, os demais produtores reagiram no grupo de mensagens. Há relatos, inclusive, de troca de tiros entre as vítimas e os ladrões. Os produtores se mobilizam para auxiliar uns aos outros na defesa de suas propriedades.
— Pessoal, o F… está sendo roubado neste exato momento. Devo demorar 45 minutos para me posicionar — disse um produtor em áudio.
Outro pecuarista, também em áudio, avisou:
— Eu estou indo, estou a caminho já, estou aqui na estrada.
Um terceiro criador advertiu, no mesmo grupo.
— A situação está ficando perigosíssima. A gente está achando que vai ter troca de tiro — alertou.
E teve mesmo. Um dos produtores conta que foi alvo de uma rajada que acredita ser de metralhadora. E revidou.
— Eu saí na direção do gado e me encontrei com os larápios. E aí eles me deram um tiro de rajada, tipo metralhadora — conta.
Questionado se atirou de volta, respondeu:
— Atirei. Na hora que eles atiraram, eu atirei também.
Assustados, os bandidos abandonaram o gado em um campo próximo. Uma câmera de vigilância instalada por um dos produtores flagrou o momento em que quatro homens a cavalo e de chapéu conduziam o gado roubado. Um deles aparece de pistola na cintura. As imagens vão auxiliar a Delegacia de Repressão aos Crimes Rurais e Abigeato, de Bagé, a identificar os bandidos.
— O que nós conseguimos apurar de imediato é que há uma miscigenação, eles se misturam, tem uruguaios, tem brasileiro. É uma linha tênue que divide o país e isso causa uma certa dificuldade pra ambas as polícias (brasileira e uruguaia). A distância é um desafio, mas estamos nos organizando para montar grupos, equipes para ter mais tempo de campo mesmo. Isso é uma das medidas que está sendo tomada — diz Guilherme Nunes, delegado de repressão aos crimes rurais e abigeato no RS.
Além de câmeras de vigilância, os produtores também utilizam drones com visão termal, o que permite gravar imagens noturnas, e vigilantes armados, a cavalo e protegidos por coletes a prova de balas. Um deles usa touca ninja para vigiar a propriedade do alto de uma torre.
— Isso é uma bomba com pavio aceso. Mais dia, menos dia um de nós vai morrer. A gente não consegue contar com ninguém, a não ser com nós mesmos — adverte um produtor.