A aposentada Jandira de Abreu Machado, 45 anos, desejava adquirir uma casa para o filho, em São Leopoldo. Em Alvorada, a cozinheira Clarisse Silva dos Santos, 37 anos, pretendia deixar de pagar aluguel, passando a morar em uma residência que fosse sua. O motorista João Artur Soares, 38 anos, de Viamão, queria o mesmo. Nos três casos, o sonho da casa própria perdeu espaço para estresse, dores de cabeça e até situações de depressão.
A origem dos problemas está no não cumprimento de prazos por parte da Construtora Martins, da qual todos adquiriram casas pré-fabricadas, pagando, com a economia de anos, valores entre R$ 12 mil e R$ 22,5 mil. A empresa, conforme os contratos, forneceria material e mão de obra. Para Clarisse e João Artur, as obras chegaram a ser iniciadas, mas ficaram inacabadas.
Jandira teve menos sorte: o imóvel não saiu do papel. O prazo acordado para a entrega era de até 60 dias. Jandira está inconformada com a situação. Ela pagou em maio de 2017, pouco tempo depois do nascimento da neta. Para dar lar ao filho, Émerson Natiel, à nora e à criança, abriu mão de uma cirurgia.
— Precisava retirar nódulos, mas surgiu a oportunidade de comprar a casa, então dei R$ 12 mil que tinha economizado, como entrada. Nunca me entregaram a casa. Fui várias vezes na empresa, registrei na polícia, mas sempre inventam desculpa e nada de cumprirem o contrato — diz.
O motorista João Artur fez a compra em setembro passado, pagando R$ 20 mil pela casa. Ele providenciou o alicerce no terreno. Em dois períodos, foram erguidas quatro paredes.
— E foi só isso que fizeram. Tivemos de providenciar o telhado. Agora, a empresa enviou mão de obra, mas não mandou material — lamenta.
Clarisse vive o drama há mais tempo. Fez a compra em setembro de 2016, depositando R$ 22,5 mil, com a promessa de que as obras seriam iniciadas em 30 dias. O imóvel de eucalipto, com 54 metros quadrados, não virou realidade:
— Poupei durante anos e paguei à vista por uma casa, mas não fizeram a obra. Quando fui à empresa cobrar, tinha seis seguranças e me intimidaram como se eu fosse a errada.
Ela acionou a empresa na Justiça, solicitando devolução. Em audiência, realizada em março de 2017, a construtora afirmou que entregaria a casa em 60 dias. Resultado: a obra não foi concluída e ela desenvolveu depressão.
Contrapontos
O QUE DIZ ALESSANDRA RIBEIRO
A reportagem ligou para dois telefones, mas não a localizou. Em contato com a Construtora Martins, uma funcionária informou que Alessandra não era mais dona da empresa e que o CNPJ foi extinto. A funcionária evitou dizer o nome do atual proprietário e informou que não se encontrava na empresa.
O QUE DIZ DAVID JOSÉ NUNES HEBERLE
A reportagem ligou para dois telefones de Heberle. Ele não atendeu aos chamados e não retornou aos recados.
O QUE DIZ O ADVOGADO LUIZ ALBERTO TEIXEIRA WAILER
Wailer representou Alessandra Ribeiro e David José Nunes Heberle na Justiça, mas não foi localizado para falar. A reportagem telefonou para quatro telefones, três desligados e um só chamava.
O QUE DIZ JOSÉ MARTINS
A reportagem foi procurada por telefone por alguém que se identificou com esse nome: A empresa, em geral, tem 80 obras por começar e, no total, com as em andamento, cerca de 160. Em alguns casos pode haver atrasos, alguns por problemas da empresa, outros, por empreiteiros ou ainda dos próprios clientes. A cada 10 reclamações, cinco podem estar com a razão, outras cinco, não".