Formado em medicina pela Universidade de Antioquia em 4 de fevereiro de 2005, Daniel Andrés Correa Posada fez suas primeiras investidas em cirurgia plástica como auxiliar de seu sogro, Rodrigo Montoya, em 2008. Posada é o nome por trás de denúncias de cirurgias plásticas malfeitas na Colômbia, uma rede que tem conexão com Porto Alegre.
À época, o médico atuava na região de Envigado, bairro localizado nos cerros que circundam Medellín. Trabalhava em três instituições: Ísis, Clínica de Especialistas Envigado e Clínica Nueva. Com a pós-graduação na Facspar, alçou voo mais alto: fundou em El Poblado a clínica Especialistas del Poblado, que contaria com cerca de 30 médicos. Ali passou a centralizar a captação de pacientes, especialmente com o uso de redes sociais. Foi quando começou a colecionar detratores na Sociedade Colombiana de Cirurgia Plástica, Estética e Reconstrutiva.
– Posada aluga uma casa, derruba duas ou três paredes, constrói uma sala de cirurgia e faz aparecer uma clínica para mamoplastias, redução de abdômen, lipoaspiração. São clínicas de garagem – afirma o vereador de Medellín Bernardo Guerra, também médico e um dos principais adversários políticos de Posada.
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Além da clínica de dois pisos em El Poblado, Posada mantém um consultório no oitavo andar da Torre Médica, um luxuoso edifício no complexo do shopping El Tesoro. Na sala 837, assina como "médico geral" ao lado de Yidio Jalaff Reyes. Bom papo, Posada é conhecido por conquistar as pacientes mais reticentes com o uso de expressões médicas sobre os procedimentos estéticos.
– É uma pessoa muito atenta, amável. Ele te diz que vais ficar charmosa e te convence de que a cirurgia vai ser um êxito – conta a advogada Erika Montoya, 36 anos, que fez rinoplastia, lipo abdominal e mamoplastia em 2010.
Dois meses antes de se submeter ao combo de intervenções, ela trabalhou com Posada prestando-lhe serviços jurídicos. Era responsável por checar o crédito das pacientes em potencial e, no caso de inadimplência, buscar reparação. Após a operação, que não teve resultado estético satisfatório, ela rompeu com o médico. Decidiu não acionar a Justiça porque a responsabilização prescreveu.
Nos últimos anos, Posada passou a processar pacientes que, revoltadas com o resultado das cirurgias, denunciaram o médico em entrevistas a emissoras de TV. O profissional também tem demandado ações na Justiça contra esses veículos de comunicação. Em 2016, entrou com processo contra a TV pública Teleantioquia. A Corte Constitucional entendeu que não houve dano.
Na qualidade de vítima, o médico disse diante do tribunal que estudava cirurgia plástica no Brasil. Porém, ao invés da Facspar, por onde obteria o diploma em julho de 2015, apresentou-se como aluno de pós-graduação de outra universidade do Rio de Janeiro. Mesmo tendo perdido a causa, seguiu em batalhas judiciais. Alegando injúria e calúnia, conseguiu na Justiça que o jornalista Ruben Benjumea, autor do blog Punto de Vista, retirasse do ar a notícia sobre a sentença.
Com a morte de Diana, os próprios empregados de Posada na clínica Especialistas del Poblado começaram a suspeitar do chefe.
– Várias vezes, ele dizia: "Estarei no Brasil". Mas era muito rápido.
Supostamente, ficava três ou quatro dias e retornava – diz uma ex-empregada.
A fisioterapeuta Katherine Giraldo recebia pacientes de Posada na clínica Ser para drenagem e massagem pós-operatória. Trabalhou durante seis meses com o médico. Ela própria havia feito uma cirurgia nos seios, em 1º de julho de 2014. Os 3 milhões de pesos colombianos (R$ 3,3 mil) foram descontados em prestações do salário mensal. Nunca obteve garantia das próteses.
Katherine começou a acompanhar as reclamações de outras mulheres. Conheceu Johana Muñoz e Angela Estefanía:
– Passei a me encontrar com as mulheres que foram minhas pacientes, todas com histórias horríveis.Foi quando questionou Posada.
– Estás fazendo coisas más – disse a ele.
Ela cortou relações com o médico. Hoje, com o marido policial sofrendo de uma doença neurológica, passa por dificuldades financeiras.
– Inibi minha vida amorosa porque tive impressão de haver algo mal colocado. Diante de uma carícia, temia que arrebentasse ou sofresse uma infeção – conta.
Posada se diz vítima de perseguição. Denunciou ter sofrido três atentados em 90 dias. Em 11 de setembro de 2016, um homem tentou esfaqueá-lo. O criminoso provocou ferimentos no ombro, no braço e nas costas do médico e fugiu em uma moto. Em 29 de setembro de 2016, outro suspeito, fazendo-se passar por paciente, teria sacado uma arma e tentado atirar no médico em seu consultório. Posada teria desarmado o agressor, que fugiu. Em 13 de dezembro de 2016, um atirador disparou à queima roupa contra Posada, na chegada da clínica. Mas errou todos os tiros.
Em processos na Justiça, Posada anexou documentos nos quais aparece o diploma da Facspar, entidade denunciada por ZH em março. Foi quando as vítimas tomaram conhecimento de que seu título de cirurgião plástico não tem validade.
– É muito triste nos darmos conta de que ele tem cúmplices no Brasil. Como o Brasil se prestou para isso? – revolta-se Katherine.
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Na clínica Especialistas del Poblado, Daniel Posada montou uma azeitada máquina de captação de pacientes por meio de redes sociais. O responsável pela estratégia era um rapaz de 34 anos, que trabalhou com o falso cirurgião plástico entre 2012 e o início de 2014.
– Conseguíamos pacientes com publicações no YouTube, Twitter, Facebook e Instagram. Eu tinha meu escritório, meus computadores, meu pessoal. Tudo ali na clínica. Publicávamos fotografias de pacientes antes e depois e colocávamos o telefone para atendimento – relata o jovem, que teme represálias e prefere não se identificar.
Quando as interessadas telefonam para o número indicado na internet, uma secretária atende e costuma marcar uma avaliação para o dia seguinte. Apesar de contar com uma equipe de cerca de 30 médicos, Posada prefere o primeiro contato com as recém-chegadas. Normalmente vestido com avental de cirurgia azul, mesmo quando não está operando, é gentil.
– A paciente sai convencida de que é um profissional idôneo – diz o ex-funcionário.
Antes de a mulher deixar a clínica, Posada a orienta a contatar ali mesmo a coordenadora de programação cirúrgica para agendar o procedimento. Exige pagamento em dinheiro, antes da cirurgia. O ex-empregado tinha um acerto com Posada: se a paciente atraída pela internet fechasse o negócio, sua equipe de redes sociais ganhava cachê.
Angela Estefanía, que ficou oito dias na emergência após uma mamoplastia, foi uma das vítimas captadas pela internet. O rapaz, ao romper com o ex-chefe, passou a auxiliar ex-pacientes no recolhimento de provas contra Posada. Segundo ele, outros colegas da clínica desconfiavam de que Posada não era cirurgião plástico. As suspeitas aumentaram depois que pacientes, revoltadas com os resultados ou aos prantos diante de uma complicação cirúrgica, telefonavam em busca de explicações.
– Foi quando me dei conta de que ele vendia falsas expectativas – afirma.
O certificado do curso de que Daniel Posada teria participado no Brasil:
Veja imagens dos corpos de algumas vítimas: