A Procuradoria Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul (PRE-RS) vai instaurar um expediente para averiguar a denúncia de que o prefeito e o vice-prefeito eleitos de Triunfo teriam trocado apoio político e votos na campanha de 2016 por cargos em comissão na prefeitura.
Na terça-feira, um ex-candidato a vereador prestou depoimento na PRE-RS e entregou um documento em que constam as promessas e supostamente as assinaturas do prefeito Valdair Gabriel Kuhn, o Belô (PSB), e do vice-prefeito, Orison Donini Cezar Junior (PSDB).
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O "Acordo extrajudicial" teria sido firmado em setembro. No papel está registrado que se Jardel Barth (PMDB), que concorria a uma vaga na Câmara de Vereadores, desse apoio à campanha de Belô e Orison (que eram de coligação adversária a sua), teria direito a 10 CCs e o comando de uma secretaria municipal, além de gasolina e de apoio financeiro para material de campanha.
A Procuradoria Regional Eleitoral – Ministério Público Eleitoral – pretende concluir a averiguação no prazo mais breve possível.
Procurados por Zero Hora, Belô e Orison negaram a negociata. Alegaram que Jardel apoiou a campanha por decisão própria e que teria ficado insatisfeito com o cargo que ganhou na prefeitura depois da eleição. Eles afirmam que o documento apresentado por Jardel é "falso ou uma montagem".
O prefeito admitiu que a assinatura é sua, mas sustenta que é um padrão de assinatura que ele só passou a usar em janeiro, depois de tomar posse e, portanto, não poderia constar de um documento supostamente firmado em setembro.
Em 26 de janeiro, Orison registrou ocorrência na Delegacia da Polícia Civil de Triunfo contra Jardel, sustentando que o documento era falso. Nos próximos dias, o delegado Luis Antonio Reis Firmino pretende tomar o depoimento de Jardel:
– Primeiro, vou ouvir o apontado como autor da falsidade. Poderia pedir perícia, mas me parece que o documento original foi entregue ao MP Eleitoral. Tenho que analisar. Também vou verificar se é o caso de manter a investigação na Polícia Civil ou enviar para a Polícia Federal.
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Triunfo enfrenta crises políticas desde os anos 1980
– Em março de 1989, o então prefeito, Bento Gonçalves dos Santos, foi acusado de enriquecimento ilícito e de empregar parentes. Foi cassado em 1999, depois de novamente eleito. Naquele ano, foi condenado três vezes por peculato.
– Entre 1991 e 1992, segundo o Ministério Público, mais de mil títulos eleitorais foram transferidos para a cidade de uma só vez. Cerca de 30 casos geraram processos criminais por aliciamento de eleitores.
– Vice-prefeito na gestão de Bento Gonçalves dos Santos, Orlando Vargas (PP) foi cassado pela Câmara em 2000, mas cumpriu mandato mediante liminar. Ele teria usado máquinas da prefeitura em propriedade particular.
– No ano 2000, vereadores tiveram prisão decretada por peculato e uso de dinheiro público.
– Prefeito eleito em 2000 e 2004, José Ezequiel de Souza (PDT), foi cassado em 2005 por compra de votos, propaganda irregular e uso indevido de verbas.
– Em 2006 e 2010, reportagens mostraram uso indevido de diárias por vereadores em cidades turísticas.
– Eleito em 2012, Marcelo Essvein (PDT) foi cassado por abuso de poder econômico e político. Em abril de 2013, Mauro Poeta (PMDB) foi eleito para substituir Essvein.
– Em dezembro de 2013, a Polícia Federal deflagrou a Operação TR-01 para apurar crimes eleitorais, corrupção, falsidade ideológica e documental, formação de quadrilha, fraude em licitação e peculato. Foram presos um ex-prefeito, dois secretários municipais, um ex-vereador e uma funcionária da Câmara.