Ao longo da investigação que resultou na Operação PhD, deflagrada há um mês, a Polícia Federal (PF) interceptou, com autorização judicial, telefonemas e troca de e-mails entre os investigados. Assim, identificou fluxo de retribuição de favores e de dinheiro para benefício próprio dos suspeitos.
A PhD investiga esquema de distribuição de bolsas de estudo em projetos ligados ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Zero Hora teve acesso a esse material, que revela o uso de recursos públicos federais para agradar a amigos, bancar viagens e diárias e até reforma em prédio.
Em trocas de e-mails, investigados repassavam até listas de beneficiários de bolsas com os valores que cada um recebia e o quanto deveriam devolver para a chamada "caixinha" do projeto EducaSaúde, coordenado pelo professor Ricardo Burg Ceccim.
Para a PF, Ceccim é o principal articulador de desvios de valores. Ao comentar os diálogos, a advogada de Ceccim, Karla Sampaio, admitiu que ocorria "eventualmente" devolução de valores de bolsas, mas que isso era feito por pessoas "engajadas na filosofia da saúde coletiva".
Clique nos links abaixo e confira trechos dos diálogos que ajudaram a embasar o indiciamento de 12 pessoas no inquérito da Delegacia de Combate à Corrupção e Crimes Financeiros da PF. Mais de 30 investigados ou testemunhas já foram ouvidos pela PF.
PARTE 1 - Investigado orienta bolsistas a devolver parte do dinheiro
PARTE 2 - Professora articula ajuda a bolsista "desesperado" por dinheiro
PARTE 3 - Em áudio, presidente da Faurgs pede que documento seja destruído
PARTE 4 - Investigadas sugerem criar vínculo com UFRGS para conceder bolsa
Os principais investigados
Foram presos no dia da operação Sergio Nicolaiewsky, ex-vice reitor da UFRGS e atual diretor-presidente da Faurgs, o professor Ricardo Burg Ceccim, um dos coordenadores do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (PPGCol) da Escola de Enfermagem, o professor Alcindo Ferla, também da Escola de Enfermagem da UFRGS, Marisa Behn Rolim, servidora da UFRGS e secretária do PPGCol, a filha dela, Priscila Behn Rolim Coronet, e Simone Chaves, professora da Unisinos.
Os seis estão em liberdade cumprindo medidas alternativas determinadas pela Justiça Federal: estão usando tornozeleiras eletrônicas, tiveram o exercício da função pública suspenso, cinco estão proibidos de frequentar as dependências da Escola de Enfermagem, tiveram os passaportes retidos, devem se apresentar em juízo bimestralmente, manter endereço atualizado e pedir autorização judicial para se afastar do município em que residem.
Universidade S/A
A apuração da PF teve início a partir de série de reportagens publicadas por ZH em abril de 2015 sobre possíveis irregularidades com recursos financeiros em instituições de Ensino Superior. Relembre as denúncias do trabalho que envolveu ainda outros quatro jornais do país clicando neste link.