As alunas colocavam cuidadosamente os coraçõezinhos no espeto para que perto do meio-dia desta quinta-feira (15) a turma do oitavo ano se lambuzasse com um churrasco assado nas dependências da Escola Estadual de Ensino Fundamental William Richard Schisler, no Menino Deus, em Porto Alegre, em comemoração à Semana Farroupilha.
O almoço seria completado por salsichão, galeto e pão de alho, além de aipim cozido, moranga assada e feijão feito no fogo campeiro. Tudo era preparado no piquete aos fundos do pátio, espaço temático criado em 2018 para que os alunos vivam a cultura gaudéria sem precisar botar os pés para fora da escola.
Com dicas e supervisão das professoras, uma aluna de 13 anos espetava carne pela primeira vez.
— Só via o meu pai fazer — disse, enquanto mexia, ao lado de duas colegas, nos coraçõezinhos recém tirados do congelador. — É fácil, mas a mão fica gelada.
Cada turma tem seu dia e horário para frequentar o piquete do William, como o espaço foi batizado. Racham, entre colegas e professor, o dinheiro para comprar a carne. Gado fica de fora, já que é mais caro. Enquanto alguns alunos se dedicam ao churrasco, outros tomam mate e há quem prefira pegar no violão — a ideia é que arranhem notas de alguma canção tradicionalista.
Idealizado pela professora Lucia Claser, da Educação Especial, o piquete do William é um lugar para colocar em prática o gauchismo, mas também para confraternizar.
— Os alunos não estavam acostumados a ter proximidade com os professores. E aqui no piquete, eles têm — diz Lucia.
A fumaça se espalhava pelo pátio da escola, obra da orientadora educacional Taís Tomasi, a responsável por assar o churrasco em um tonel improvisado ao lado do piquete. Ela também ensinou a fazer fogo com segurança, usando um rolinho de papel embebido em azeite. Com o carvão em chamas, pediu que os estudantes trouxessem os primeiros espetos.
— Busquem o galeto, que assa mais demorado — mandou Taís. — Eu sou da Fronteira, na Fronteira a gente se cria assando churrasco. Mas os alunos gostam. Na segunda vez que entram no piquete, já estão preparados para assar.
Aprender sobre os costumes do Rio Grande do Sul também está na grade de atividades do Colégio Farroupilha, instituição particular situada no bairro Três Figueiras. Desde o dia 13 de setembro, quando se iniciaram as celebrações da Semana Farroupilha, os estudantes têm parte do turno reservado a entender os símbolos do Estado, como a erva-mate e o quero-quero, além de se divertir com danças folclóricas.
Vestidas como prendas e peões, as crianças da turma do nível quatro da Educação Infantil giravam em torno de um mastro para fazer a dança do pau de fitas na manhã desta quinta-feira. Logo depois, aprenderam a laçar — jogavam uma corda em torno do pescoço de uma vaquinha feita de madeira e puxavam, como fazem com os animais do campo.
Questionada qual era o hábito gauchesco que mais tinha gostado de aprender, Carolina Bianchi foi assertiva:
— Eu gostei do churrasco — disse a menina, referindo à atividade da manhã anterior, quando espetaram salsichões com auxílio dos professores.
Mas não foi necessário empenhar muito esforço na tarefa, admitiu a colega Marília Carlos:
— Nós ajudamos comendo — revelou a guria, dando risada.
Para a professora Laura Sere Machado, ensinar às crianças sobre a tradição do Rio Grande do Sul é uma forma diferente de brincar, além de mostrar que, fora da cidade, muitas pessoas vivem outro estilo de vida.
— Eu expliquei a eles que, antigamente, os gaúchos tinham o hábito de ficar em roda, na frente da fogueira, sem internet, sem ar-condicionado para esquentar. Então, na próxima atividade, nós faremos uma roda de chimarrão. É uma forma de alimentar, nos pequenos, esse orgulho de ser gaúcho.