Pelas mãos de Marilene Hatzfeld, 64 anos, centenas de pilchas são confeccionadas por ano. Costureira há quatro décadas, há pelo menos 25 anos, ela se dedica exclusivamente à produção de roupas para prendas e peões de todo o Rio Grande do Sul e até de fora do Estado. O trabalho é realizado no próprio apartamento, na zona norte de Porto Alegre, onde um dos quartos foi transformado em ateliê.
Marilene foi inserida no ofício pela bisavó, que era costureira e incentivou a menina, com 15 anos, a fazer um curso de corte e costura. Mais tarde, ela transformou o aprendizado em um trabalho, e a confecção de indumentárias para os filhos – participantes do CTG Gildo de Freitas – em uma paixão.
— Eu vivo isso 24 horas por dia, não tenho mais vida própria. Tem que gostar (de costurar), se não, nem adianta começar — comenta Marilene.
A primeira confecção de pilchas profissionalmente foi para o grupo de dança do qual o filho fazia parte. Depois disso, seu trabalho começou a ser requisitado por dezenas de entidades tradicionalistas para as principais apresentações do estado. Ela costuma atender de um a dois grupos por mês (cada grupo tem em média 30 participantes) e já está com a agenda lotada até dezembro.
Para dar conta do trabalho, Marilene conta com o auxílio de duas costureiras, para quem passou as habilidades com a costura tradicionalista. Hoje, elas demoram, em média, dois dias para finalizar cada pilcha – mas várias peças são produzidas ao mesmo tempo.
— Fui ensinando e agora elas já estão peritas — brinca.
Marilene confessa que pretende se aposentar no ano que vem, e deve passar o bastão para uma de suas companheiras.
Trabalhando com Mari há oito anos, Rosani da Rosa, 44 anos, é uma das pretendentes ao cargo. Há 22 anos na costura, aprendeu o ofício "na marra", para ajudar a sogra costureira que tinha quebrado a clavícula. Ela relembra que era final de ano e todos os pedidos – inclusive de vestidos de madrinha e mãe de uma noiva – ficaram sob sua responsabilidade:
— Caiu tudo na minha mão. Eu já tinha o dom se não tinha feito nada — garante Rosani.
Na divisão de tarefas da produção das indumentárias, ela fica com a costura, pois Marilene tem mais prática com o corte do tecido. A peça que mais gosta de costurar é a pilcha masculina e Mari os vestidos.
A reportagem tentou descobrir de Marilene o segredo para a confecção dos vestidos de prenda que fazem tanto sucesso. Mas, segundo ela, não há uma fórmula mágica, pois cada produção depende do propósito e do tema da apresentação. Por isso, tudo começa com uma pesquisa realizada pelo CTG em conjunto com o estilista, que, a partir disso, define o tecido, as cores e os adornos para o desenho do traje.
— Não tem técnica. Tu precisas do modelo, das medidas e, então, trabalhar em cima do tecido — explica Mari.
Os preços dos vestidos variam entre R$ 200 (juvenil) e R$ 750 (adulto), conforme o tecido escolhido – o mais comum é o oxford. As peças mais caras são aquelas que usam cetim brocado e renda de guipir. Confira os passos que ela segue na sua produção:
- 1º Tirar as medidas de cada prenda.
- 2º Corte do tecido em quatro partes: saia, blusa e mangas.
- 3º Primeira prova para acertar medidas.
- 4º Costura das peças na máquina reta.
- 5º Segunda prova para conferir o caimento.
- 6º Acabamento no overloque e aplicação de bordados, rendas e babados.
Pilchas devem seguir regras do MTG
A produção das indumentárias ainda deve seguir regras estabelecidas pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho em Convenção realizada em 29 de julho de 2011 na cidade de Taquara. Os trajes são divididos em feminina, masculina e prenda e peão mirim.
Além dos vestidos, as mulheres tem outras duas opções de trajes: saia e blusa ou saia e casaquinho. O comprimento da barra deve cobrir o peito do pé e as mangas devem ser, no mínimo, até os cotovelos. A bombacha feminina é utilizada apenas em situações informais como eventos campeiros ou esportivos. Já as prendas mirins só usam vestidos, que devem ser mais discretos, sem tecidos brilhosos ou aveludados e cores fortes como por exemplo marrom, azul-marinho e bordô.
O traje dos homens é composto obrigatoriamente por bombacha, camisa, botas, guaiaca, chapéu, lenço e colete ou paletó (usado em ocasiões mais formais). Assim como os trajas femininos, devem ter cores sóbrias e as combinações não podem ser contrastantes. A faixa, pala, esporas (proibido em baile e fandangos) e faca são opcionais. A roupa dos peões mirins segue as mesmas diretrizes dos adultos, mas sem o uso dos elementos opcionais e do chapéu.