É por conhecer a realidade das mudanças climáticas e saber o fundamental papel que a circularidade tem na sustentabilidade que Mauricio Cótica, diretor-executivo da Bioo e fundador da Sebigás Cótica, destaca a importância de soluções como a transformação de resíduos agroindustriais em produtos renováveis. Confira a entrevista concedida pelo executivo à reportagem de Zero Hora:
Como funciona o trabalho da Bioo?
A Bioo é uma plataforma criada para tratar resíduos orgânicos das agroindústrias em produtos renováveis como biometano, CO² biogênico e biofertilizantes. Recebemos os resíduos orgânicos, como, por exemplo, de laticínios, frigoríficos, incubatórios, usinas de biodiesel, operações de alimentos e bebidas, para tratá-los por meio da biodigestão anaeróbia – num processo biológico e controlado que resulta na geração de biogás e de outros bioprodutos. Da purificação do biogás, produzimos o biometano, um gás natural renovável e compatível com o gás natural de origem fóssil, e também o CO² biogênico, igualmente renovável e de origem orgânica. As frações sólida e líquida que resultam da biodigestão – ou seja, aquilo que não foi transformado em gás, também é aproveitado e retorna para a natureza através da produção de biofertilizante, complementando nosso ciclo de circularidade. Em síntese, o grande papel da Bioo é transformar estes resíduos orgânicos, que em algum momento foram ou poderiam ser considerados descarte, em produtos com base no conceito de economia circular, retornando para a sociedade e contribuindo diretamente para a mitigação das emissões de gases de efeito estufa e com o objetivo da descarbonização da nossa cadeia produtiva.
Por que a transformação de resíduos em produtos renováveis e limpos representam um bom negócio?
Em primeiro lugar, é bom negócio para a sociedade. O que realizamos são formas de reduzir as emissões de gases de efeito estufa, atuando na descarbonização e na promoção de negócios e soluções cada vez mais sustentáveis e economicamente viáveis. Hoje, temos consciência de que os recursos naturais são finitos e que estamos vivendo uma crise climática – que a cada novo fato demonstra o quanto está se agravando e se acelerando – e de outro lado temos resíduos que carregam um potencial de transformação em novos produtos que são descartados, sem o devido reaproveitamento, inclusive sendo enterrados e, assim, eliminando o seu ciclo de transformação – uma realidade que trabalhamos para modificar. A Bioo, ao exercer este papel de transformação dos resíduos, se propõe a criar soluções para apoiar o crescimento sustentável das agroindústrias e a atuar de forma ativa em ser uma fonte estável e descentralizada de gás natural renovável, o biometano, criando um corredor verde, a partir do Rio Grande do Sul. Sendo uma fonte alternativa de biocombustível em regiões que não tem um acesso tão facilitado a mais alternativas de energia.
E como você enxerga a evolução desse negócio? Quais os desafios?
No momento, enxergamos um grande potencial de introduzir o biometano como um substituto ao diesel utilizado em ônibus, caminhões e no transporte rodoviário em geral. Isto representa inúmeros benefícios ambientais e também econômicos, dado que conseguimos ser mais competitivos do que esta fonte fóssil. E na evolução do uso de nossos bioprodutos (produtos gerados a partir de insumos orgânicos) em mais produtos que valorizem a sua base orgânica e todos seus benefícios. Como por exemplo, o biofertilizante oriundo desse processo carrega uma diversidade de macro e micronutrientes que enriquecem o solo agrícola, e também carregam vida, por sua base orgânica e ativa: um produto com grande valor para a agricultura regenerativa. Como desafio constante, é seguirmos ampliando o conceito da circularidade, aproveitando ao máximo tudo que ainda é gerado e tratado como resíduos para gerarmos valor para a sociedade. E crescer. Enxergamos um grande potencial de crescimento com plantas distribuídas em diferentes regiões do país.
Além de ser uma empresa com viés sustentável, onde mais o ESG está inserido na companhia?
A Bioo, desde a sua concepção, carrega consigo a sustentabilidade como essência do negócio e isso permeia a empresa, consolidando nossa cultura, que fomenta um ambiente diverso, incluso e responsável. Temos a felicidade de contar com um time de pessoas que escolhem trabalhar conosco na Bioo por compartilhar desta mesma visão de mundo e se dedicar a fazer sua importante contribuição nesta jornada.
O senhor é também fundador da Sebigas Cótica. Pode falar um pouco sobre?
A Sebigas Cótica é uma empresa que nasceu para se especializar em negócios de biogás e de biometano. Nossa história começou há muito mais tempo, nos negócios que nos antecederam e que se aproximam de 50 anos, anteriormente dedicados ao desenvolvimento de projetos de engenharia e de construção industrial, além de sempre conciliarmos com nossa atuação no agronegócio. É da vivência nestes dois ambientes, que para nós sempre andaram lado a lado, é que percebemos a oportunidade de melhor aproveitar os resíduos gerados pela produção agroindustrial – que segue crescendo. Assim, há 10 anos estamos investindo e desenvolvendo soluções tecnológicas e de negócios para o desenvolvimento do biogás em escala industrial. Durante esse período, utilizando nossas soluções, temos desenvolvido plantas no Brasil e na América Latina, a partir de diferentes insumos orgânicos – que chamamos de biomassas; assumimos o pioneirismo como uma vertente forte na companhia e desenvolvemos tecnologia proprietária que atenda bem a nossa realidade brasileira, especialmente em escala. A Sebigas Cótica tem orgulho de estar na vanguarda e presente nos quatro maiores grupos produtores de açúcar e etanol de cana do país, desenvolvendo plantas de biogás que utilizam os resíduos desta cadeia produtiva. Alguns destes projetos, por exemplo, têm a capacidade de produzir biometano suficiente para substituir 100 mil litros de diesel por dia. E termos origem no RS é até peculiar, neste sentido, dado que não temos cana em nosso Estado e desenvolvemos a solução aqui. Através da Bioo e em conjunto com nossos sócios da eB Capital, estamos construindo a maior plataforma de biodigestão de resíduos orgânicos do país, por meio da nossa tecnologia, com a capacidade de tratar mais 40 tipos de resíduos diferentes, algo pioneiro no Brasil.