Com o objetivo de ajudar famílias que foram atingidas pela tragédia de maio, o projeto Mulheres da Enchente busca conectar as chefes de família que precisam reconstruir seu lar a pessoas que podem contribuir. A iniciativa, criada por um grupo de voluntárias, mapeia as necessidades desse público em Porto Alegre e Região Metropolitana.
O recorte social do projeto visa acolher um grupo vulnerável que se tornou ainda mais exposto na enchente: mulheres chefes de família que atuam na economia do cuidado, em trabalhos como diaristas, catadoras e garis. A ação conta com o apoio de agentes comunitários e organizações locais.
Para prestar o apoio necessário, o projeto identifica quais são as sete principais necessidades de cada família, entre materiais (como móveis e eletrodomésticos, material para obras, entre outros) e imateriais (como apoio psicológico, assessoria jurídica, entre outros). Já foram 10 famílias beneficiadas com doações e outras já estão sendo mapeadas. O objetivo é que em torno de cem famílias sejam atendidas até o próximo ano.
"Quero voltar a enxergar o amor pelo meu lar"
Não foi fácil para a faxineira Anne Caroline Ferreira Quinteiro, 30 anos, sair da casa onde mora com os dois filhos no bairro Rio Branco, em Canoas, quando a ameaça de inundação chegou à cidade. Entretanto, ela sabia que era melhor se precaver. Abasteceu o carro da família com mantimentos, pegou as crianças e deixou a cidade no dia 4 de maio para voltar só um mês e meio depois.
No retorno, ela atestou o inevitável: tudo havia sido perdido.
Para dar conta de reconstruir o lar, foi preciso recorrer a iniciativas de apoio, como o Mulheres da Enchente. Por meio do projeto, Anne Caroline conseguiu comprar uma máquina de lavar roupas e ganhou um micro-ondas. Porém, para tornar a casa um pouco mais parecida com o que era antes e trazer mais conforto para ela e os pequenos Pedro, sete anos, e Sophia, 11, ainda é preciso adquirir dois roupeiros e uma geladeira.
— A gente que foi atingido precisa de alguma coisa para conseguir recomeçar, e o resto vai se organizando — enfatiza.
Anne Caroline é mãe solo há dois anos, quando saiu de um relacionamento abusivo e se separou do pai dos seus filhos. Desde então, ela fica encarregada do sustento e cuidado dos pequenos.
A casa onde ela mora é seu lar desde criança. O local guarda as memórias da sua vida, da formação de sua família e da infância dos filhos. Mais do que o teto sob o qual dorme, a residência é o lugar onde Anne Caroline ama estar. Para dar conta do trauma, a mãe também vai aproveitar o auxílio psicológico oferecido por voluntárias do projeto.
— Eu perdi o amor pela minha casa. Não são bens materiais, é uma história que ficou para trás, 30 anos de uma casa que meu pai construiu, onde eu me criei… Eu quero voltar a enxergar esse amor pelo meu lar. Quero construir o quartinho dos meus filhos, dar as coisinhas pra eles como era antes.
Contribua com o Mulheres da Enchente
Para participar, é preciso fazer uma inscrição através do formulário disponível no link bit.ly/mulheres-da-enchente ou entrar em contato por mensagem no Instagram, por meio do perfil @mulheresdaenchente. As formas de ajudar são:
- Fazendo uma doação em PIX no valor correspondente à necessidade de uma família.
- Doando móveis, eletrodomésticos e outros itens listados como necessidades por cada família. Nesse momento, as doações podem ser de itens usados em bom estado ou itens novos comprados online e enviados diretamente para a família. A compra e entrega dos itens ficam a cargo do doador.
- Oferecendo um serviço voluntário, como auxílio jurídico e burocrático, atendimento psicológico, consultas emergenciais, reparo das casas, entre outros.
Produção: Caroline Fraga