Foi vendo um vídeo sobre a devastação das chuvas sobre Eldorado do Sul, nas redes sociais, que o prefeito do município catarinense de Bombinhas, Paulo Henrique Dalago Muller, decidiu que tinha que ajudar a cidade gaúcha. Porém, ele não queria apenas enviar mantimentos, queria ajudar na reconstrução do local. E é isso o que está fazendo, assim como outros prefeitos de seu Estado.
— Eu fiquei pensando: "Quando baixar essa água, o que vai ser deste prefeito? Uma cidade que ficou quase 90% debaixo d'água. Como ele vai reconstruir?". Liguei para o prefeito (Ernani Gonçalves) e perguntei o que ele precisava. Na ligação, ele disse: "Meu filho, a minha cidade acabou. Eu preciso de tudo". Eu disse, então, em tom de brincadeira, eu vou aí e "adotar" o senhor e a sua cidade — explicou Muller.
O prefeito de Bombinhas, então, trouxe para o Estado, na última semana, dois caminhões, duas máquinas pesadas, lanchas, motos aquáticas, materiais de construção e de limpeza, alimentos e um grupo de 25 voluntários — a partir de um Projeto de Lei (PL), o 014/2024, aprovado pela Câmara de Vereadores. A ideia é permanecer no município gaúcho, entre idas e vindas, enquanto houver necessidade. Tal ajuda foi celebrada por Ernani Gonçalves, chefe do Executivo de Eldorado do Sul, que viu a sua cidade ser devastada pelas enchentes.
— O prefeito de Bombinhas veio para cá com uma equipe e (eles) nos ajudaram, trouxeram equipamentos e materiais, suprimentos. O Brasil todo está nos ajudando. Se não fosse isso, não sei como seria a nossa vida aqui. Ninguém está preparado para uma situação dessas — salienta Gonçalves.
Muller, após brincar que iria "adotar" Eldorado do Sul, entendeu que, na verdade, aquilo poderia ser sério. Foi, então, fazer o pedido de "adoção" nas redes sociais e, conforme ele, este chamamento inspirou o humorista Badin a engrossar o coro, o que gerou ainda mais repercussão. Assim, frequentemente, novas ajudas como esta estão sendo anunciadas.
Um destes anúncios ocorreu nesta quarta-feira (14), com o município de Joinville decidindo apoiar a cidade de Guaíba. Segundo a prefeita em exercício, Rejane Gambin, os deputados Felipe Camozzato, estadual, e Marcel van Hattem, federal, intermediaram a união SC-RS, o que vai gerar esta "adoção" para reerguer a localidade tão atingida pelas chuvas.
— O prefeito Marcelo Maranata aceitou a ajuda, porque este é um tipo de ajuda que tem que ter o aceite do prefeito, aí logo depois disso, nos reunimos. Agora, vamos ir para a primeira etapa, que é definir o que Guaíba precisa neste primeiro momento. E, depois, entender o que será necessário para quando as pessoas de lá voltarem para as suas casas — detalha Rejane.
Este movimento, porém, precisa ser detalhado e transparente, uma vez que, conforme a prefeita em exercício de Joinville, o dinheiro público é destinado para ser gasto em cada cidade. Assim, para que a ajuda possa ir sem qualquer problema para Guaíba, uma equipe já está em conversa com o Tribunal de Contas para poder avançar com os trâmites sem qualquer problema futuro.
"Adoções" de várias formas
Dentro deste cenário, cada conversa é feita de maneira individual e cada município se organiza de sua maneira para poder prestar ajuda às cidades gaúchas. O prefeito de Chapecó, por exemplo, João Rodrigues, sancionou a lei 8.703, que autoriza o Poder Executivo a realizar ações de auxílio a municípios brasileiros afetados por catástrofe natural, por meio de ajuda mútua.
— Adotamos Arroio do Meio e a nossa ideia é ficar de sete a dez dias por lá para podermos recuperar a cidade — conta Rodrigues. — Chapecó tem uma coisa um pouco diferente, acho que por tudo que a cidade já viveu, com a tragédia da Chapecoense, a covid. Então, a solidariedade humana aqui é impressionante. A população aplaude.
Então, na próxima terça-feira (21), sai da cidade catarinense um comboio com dez caminhões, quatro retroescavadeiras, duas escavadeiras hidráulicas, duas patrolas e dois caminhões-pipa. Além disso, acompanha mais uma equipe de cem servidores municipais e voluntários, para auxiliar na reconstrução das estradas, limpeza de ruas e limpeza das casas, bem como para prestar serviços de assistência social e saúde.
— Já veio uma equipe de Chapecó aqui para ver o que Arroio do Meio está precisando. A gente ficou muito feliz de alguém estender a mão para o nosso município que tanto precisa agora — conta o prefeito de Arroio do Meio, Danilo Bruxel. — E isso encoraja a gente para continuarmos fazendo a nossa parte, em um momento que a gente sabe em que não estamos sozinhos.
Além do anúncio
A cidade catarinense de Rio do Sul, por exemplo, anunciou em suas redes sociais, que iria adotar o município de Muçum. O prefeito gaúcho, Mateus Trojan, porém, disse que, por enquanto, o diálogo entre as duas localidades não ocorreu de maneira direta e, assim, ainda não recebeu ajuda de sua "adotante".
— Nós ainda não conseguimos conversar. Em um primeiro momento, o prefeito de lá tinha algumas ações de apoio que não eram tão necessárias, não fariam muito sentido para nós. Solicitamos, então, o contato direto com a prefeitura e estamos aguardando. Existe um manifesto de interesse, assim como de outros municípios nos últimos dias — destaca Trojan.
Segundo o prefeito gaúcho, caso o manifesto de interesse se torne, de fato, apoio além das redes sociais, o que mais Muçum precisa, neste momento, é de maquinário, caminhões hidrojato, caminhões de caçamba, miniescavadeiras, mão de obra voluntária e doações em dinheiro, para a reconstrução da cidade e expansão para áreas que não sejam afetadas pelas enchentes.
Cidades que foram adotadas (e que já houve confirmação de ajuda):
- Arroio do Meio adotada por Chapecó (SC)
- Guaíba adotada por Joinville (SC)
- Eldorado do Sul adotada por Bombinhas (SC)
- Estrela adotada por Blumenau (SC) e, também, por Osasco (SP)
- Novo Hamburgo adotada por Itapetininga (SP)
- Nova Santa Rita adotada por Indaial (SC)
- Roca Sales adotada por Sananduva (RS)
- Rolante adotada por Timbó (SC)
- Sinimbu adotada por Tucunduva (RS)