Poucos metros distante da água que escorre do Guaíba e avança pelo Centro Histórico de Porto Alegre, o governador Eduardo Leite apontou que o sistema de proteção contra cheias da Capital está sob estresse e pediu que as pessoas se afastem das proximidades de áreas alagadas. Embora tenha reafirmado que "confia na resposta" da estrutura, Leite garantiu que as equipes do Exército e da Defesa Civil estão mobilizadas para atuar rapidamente em caso de problemas.
— Mesmo onde há sistema de proteção, peço que as pessoas deixem esses locais. Por mais que a gente confie neles (bloqueios), sempre há preocupação de que possam não resistir ou que algum ponto específico tenha alguma ruptura — alertou Leite, em entrevista concedida no sexto andar do Comando Militar do Sul (CMS).
Minutos antes, o prefeito Sebastião Melo havia sido obrigado a abandonar a coletiva ainda no começo, ao ser avisado justamente de um problema no sistema — o vazamento de um dique na Zona Norte. Pela manhã, uma das 14 comportas que protegem a Capital do avanço do Guaíba já havia se rompido, despejando água em direção à avenida Voluntários da Pátria e ao Centro.
A própria entrevista também acabou abreviada, em razão do desligamento da energia elétrica no prédio militar. A providência foi tomada já que a água havia invadido o subsolo do prédio, por onde passa a fiação. O secretário nacional da Defesa Civil, Volnei Wolff, que dividia mesa com Leite e o com o chefe do CMS, general Hertz Pires do Nascimento, sequer respondeu perguntas.
Alimentado pela água de quatro rios que se encontram no Delta do Jacuí, o Guaíba chegou aos 4m70cm às 19h desta sexta-feira (3) na Usina do Gasômetro, de acordo com o Centro Integrado de Coordenação de Serviços (Ceic). A marca avançava para ultrapassar ainda durante a noite os 4m76cm alcançados na histórica enchente de 1941.
No meio da tarde, o governador foi pessoalmente até a Praça da Alfândega, a duas quadras do quartel, pedir que curiosos se afastassem do local, diante do avanço da água.
— Sei que todo mundo fica curioso, é um fato histórico, mas a gente pede que todo mundo possa sair daqui. Confiamos no sistema de proteção, mas ele vai ser testado como nunca foi. Não temos segurança de que essa área fique íntegra — explicou Leite aos populares, que atenderam a ordem
Oito mil resgates
Durante a coletiva, o governador frisou que mais de 8 mil pessoas já foram resgatadas por água, terra e ar no Rio Grande do Sul desde o início da chuva, que se aproxima dos 800mm acumulados em algumas regiões.
No tom grave que tem marcado seus pronunciamentos desde o início da tragédia climática, alertou para a perspectiva de cheia na Bacia do Rio Uruguai para os próximos dias, que pode afetar áreas ao longo das faixas Norte e Oeste do Estado.
A previsão é de que os problemas atinjam as regiões do Alto, Médio e Baixo de Uruguai e depois se apresentem na Fronteira Oeste. No Vale do Taquari, a despeito da redução no nível do rio, ainda há risco extremo de inundações e deslizamentos.
Por sua vez, o general Hertz informou que o Exército não conseguiu transportar um hospital de campanha que seria montado em Estrela, no Vale do Taquari, em razão das más condições de acesso terrestre.
Sem burocracia
Em manifestação na entrevista, Leite prometeu que, apesar das restrições financeiras, o Estado vai liberar todos os recursos necessários para a reconstrução dos municípios afetados pela inundação. A previsão é repassar o dinheiro diretamente aos fundos municipais de defesa civil, para que as prefeituras efetuem compras e contratem serviços.
— Vamos repassar esse recurso sem exigir plano de trabalho ou projeto prévio. Vai na conta do município para usar no que for necessário.
Leite ainda anunciou que haverá nova leva de pagamento do programa Volta por Cima, que destina uma parcela única R$ 2,5 mil a famílias pobres atingidas por desastres climáticos.