A perspectiva de que as cheias do Rio Taquari sejam a nova rotina não têm deixado empresários e trabalhadores tranquilos em Muçum. Mesmo desenvolvendo métodos para mitigar danos após a grande enchente de setembro, como transportar estoques e patrimônios para locais seguros, quem movimenta a economia crê que isso possa não ser suficiente no futuro.
— Gosto de Muçum, vim para cá por conta da namorada, mas já estou decidido a voltar pra minha terra natal, em Bom Retiro (do Sul) — admite Ricardo Dall’Agnol, 30 anos, gerente da Lojas Becker de Muçum, na manhã desta segunda (20).
Ele e outros seis funcionários se empenharam na remoção dos eletrodomésticos mais caros em dois caminhões da empresa no sábado. A estratégia de logística foi feita na sexta, quando a chuva já tinha derrubado barreiras que interromperam trechos da RS-129. Ainda assim, o barro trazido pela água do Rio Taquari ao longo de sábado e domingo (19) invadiu a loja, cobriu itens como privadas e eletroportáteis, estantes, armários, painéis e roupeiros. Na manhã ensolarada desta segunda, um monte de pedaços de madeira esperando remoção tomava conta da calçada em frente a loja.
— Estimamos cerca de mais três semanas até voltar, como foi de setembro para outubro, porém a ameaça de uma nova enchente em dezembro deixa todo mundo ressabiado. O que antes não acontecia em 100 anos, aconteceu 2 vezes estes últimos meses. Não temos segurança de reabrir, talvez demore mais — diz o gerente.
Na mesma rua, Ana Sangalli, 67, nascida em Roca Sales e empresária em Muçum há 30 anos, tem na memória os níveis que a água do Taquari alcançou nas paredes de seu salão de beleza. Neste final de semana, viu os alertas da defesa civil e se organizou para remover os móveis e equipamentos internos para uma área seca antes que a inundação alcançasse a porta de vidro. O prejuízo, que em setembro tinha sido de R$ 100 mil, não foi sentido na enchente de novembro, mas talvez custe caro em breve.
— Tenho minha casa e minha loja, não quero sair daqui para ir pagar aluguel em outro lugar. Não tenho mais dinheiro para comprar outra e não sei como que venderia essa aqui. Vou ficar aqui mesmo e esperar que façam algo para melhorar a situação — projeta.
Ana comprou um pressurizador de água para conectar uma mangueira e limpar seu salão. Ela projeta que a manutenção do espaço até a reabertura vá levar duas semanas. Porém, neste momento não é possível usá-la, pois as paredes e as tomadas podem causar choques depois de ficarem molhadas.
A vice-diretora da Escola Estadual de Ensino Médio General Souza Doca, Charlene Vigolo, 42, acredita que a frequência de enchentes pode exigir mudanças na estrutura da cidade.
— Talvez seja um novo normal que a gente tenha que criar uma maneira de conviver com isso — comenta.