Menos de três meses depois de uma enchente histórica que arrasou cidades inteiras e deixou meia centena de mortos no Rio Grande do Sul, no começo de setembro, os gaúchos voltaram a sofrer os efeitos de chuva torrencial neste sábado (18).
Por volta das 22h, a Defesa Civil informou que 38 municípios do RS reportaram diferentes tipos de ocorrências, como enxurradas, inundações e deslizamento de terra. Houve duas mortes em Gramado, ambas mulheres que estavam em uma residência que foi soterrada. O balanço aponta que há 399 pessoas desabrigadas e 1.665 pessoas desalojadas.
Há alertas de inundação nos rios Uruguai, de Garruchos a Uruguaiana; no Alto Uruguai e a partir de Iraíe também nos rios Jacuí, Taquari, e Caí. Pelo menos 50 pontos de estradas estaduais e federais chegaram a ficar bloqueados total ou parcialmente. Foi determinada uma evacuação preventiva de moradores de Nova Roma do Sul nas proximidades da barragem da Usina Hidrelétrica Castro Alves, localizada junto ao Rio das Antas, em razão da alta vazão de água.
Depois de ter divulgado uma manifestação em que refutava o risco de repetição de uma enxurrada — quando um grande volume de água avança com violência sobre uma área, a exemplo do que ocorreu no Vale do Taquari em setembro, o governador Eduardo Leite publicou um outro vídeo no meio da tarde com um maior nível de alerta:
— O monitoramento do nível nas barragens hidrelétricas que compõem o complexo Ceran (Companhia Energética Rio das Antas) aponta que nós podemos, ao longo do Rio Taquari, vivenciar um episódio semelhante ao que vivenciamos em setembro. Provavelmente não com as enxurradas, com a velocidade dos rios arrastando o que vem pela frente, mas com elevação rápida do Taquari atingindo localidades que foram atingidas também em setembro nas próximas horas.
O aviso se direcionou sobretudo a municípios da região como Santa Tereza, Roca Sales, Muçum, Colinas, Lajeado, Estrela, Arroio do Meio, entre outros.
— Ao longo das próximas horas, a gente pode vivenciar uma elevação rápida dos rios afetando essas comunidades. Todos que estão nessas comunidades, já estamos fazendo alertas para as comunidades, para os prefeitos, para a Defesa Civil desde cedo, mas é importante que todos saibam que o risco é real, e que precisamos que quem vive em localidades atingidas em setembro deixem suas casas e possam estar em locais seguros — completou Leite.
Em Lajeado, o Rio Taquari ultrapassou a cota de inundação durante a madrugada por conta do intenso volume de chuva. Uma atualização divulgada às 15h indicava que o rio chegou a 25m70cm — subindo cerca de 30 centímetros em uma hora, segundo a prefeitura. Pelo menos 480 pessoas haviam sido retiradas de suas casas e levadas ao Parque do Imigrante. Muitos moradores lembraram do último evento climático.
Em Muçum, na mesma região, o Rio Taquari subiu cerca de cinco metros entre 0h e 7h, quando alcançou 18 metros, marcação acima da cota de inundação. Às 12h, o boletim indicava que o rio atingira 20m04cm. O prefeito Mateus Trojan informou que famílias também estavam sendo retiradas de casa.
Pelo menos cem mil clientes ficaram sem luz por volta do meio-dia de sábado, todos na área de concessão da RGE. Os problemas estavam concentrados nas regiões da Serra, Planalto, Norte e nos vales do Sinos e do Taquari. A CEEE Equatorial informou que estava registrando "pontos de instabilidade" no fornecimento de energia elétrica, "especialmente nas regiões Metropolitana e Litoral Norte", mas não chegou a especificar a quantidade de pessoas afetadas.
Um homem, que não teve sua identidade divulgada, despareceu após o veículo que ele conduzia ser levado pelas águas do Rio das Antas na RS-437, entre Antônio Prado e Vila Flores. Conforme informações do Corpo de Bombeiros Militar de Veranópolis, que foi acionado por volta das 8h10min, outros dois homens também estavam no mesmo automóvel e conseguiram sair. Eles não tiveram ferimentos. Em razão da dificuldade de buscas no local, a guarnição de Veranópolis acionou uma equipe de mergulhadores de Porto Alegre para auxiliar nas buscas.