Anilda Castoldi, 81 anos, mora há mais de 30 anos em uma casa de madeira às margens do Rio Taquari, em Roca Sales. Durante todo esse tempo, ela afirma nunca ter visto nada parecido com o que viu, ou então, pelo menos, com o que conseguiu ver antes que o rio engolisse o seu lar e toda a vizinhança.
Ela conseguiu sair de casa a tempo e se abrigar na casa de familiares. No entanto, ao retornar à moradia com o filho de 42 anos, se deparou com uma casa que mais parecia ter sido desenterrada da lama, de baixo para cima. Todas as paredes, móveis, janelas e assoalho foram cobertos de uma camada densa de barro. Ainda assim, Anilda se apoia no otimismo como fonte de energia.
— Tenho muita fé de que tudo vai ficar igual ao que era ou até mais bonito — afirmou, ao visitar o imóvel nesta segunda-feira (11).
Ao entrar no seu próprio quarto, Anilda mostra como ficaram sua cama e guarda-roupa, que agora tem gavetas transbordando a lama deixada pelo rio. Enquanto conversa, se concentra em tentar limpar alguma parte, sem nenhum receio de ficar com as mãos sujas de barro.
Mesmo assim, a aposentada permanece calma e dizendo que tudo será restaurado. Em tom de brincadeira, ela garante que, assim que organizar as coisas, ainda chamará os amigos para um churrasco:
— Esse é o meu jeito. Não gosto de tristeza. Gosto é de rir. Eu acho que isso é o que me deixa de pé.
Em outro ponto, André Rodrigues, 35 anos, morava há cinco em uma casa em que dividia o terreno com uma instalação com kitnets. Por serem mais altas, elas resistiram, mas da sua residência, sobraram apenas os alicerces.
— Aqui, foi praticamente um rio. Nunca vi isso na vida. Então, o importante é estarmos vivos, poder trabalhar e reconstruir — amenizou, enquanto tentava retirar um pouco do lamaçal no entorno do terreno.
Da destruição à esperança
O centro de Roca Sales segue em tentativa de reconstrução. Em uma esquina na Avenida General Daltro Filho, funcionava uma farmácia que foi destruída pela enchente.
Depois que a água baixou, a proprietária resolveu limpar o espaço e oferecer para os voluntários. Aos poucos, donativos foram chegando e, com isso, o local se transformou em uma central de entrega de roupas e materiais de limpeza.
A área central foi uma das mais afetadas pela enchente e que teve mais prejuízos na rede elétrica. Por isso, boa parte das ruas principais e adjacentes seguem sem luz. Ainda assim a prefeitura estima, junto com a concessionária RGE, que cerca de 85% do restante do município já tenha o fornecimento restaurado.