Uma semana após a segunda maior enchente da história de Rio Taquari, o céu aberto facilitou a limpeza das ruas e casas em Muçum nesta segunda-feira (11). Todavia, não se viu tanta gente atuando na retirada dos escombros como no final de semana.
Com o fim do feriadão, a maior parte dos voluntários retornou para seus municípios de origem, deixando a cidade aos cuidados dos sobreviventes. Os poucos que ficaram estão ajudando principalmente na alimentação. Uma cozinha de campanha montada em frente à prefeitura havia servido 3,75 mil refeições só entre sábado e domingo.
Com menos gente circulando pelas ruas, as máquinas ganharam maior mobilidade. Havia um ruído onipresente em cada esquina, com postes sendo erguidos, retroescavadeiras carregando entulho acumulado à beira das calçadas, caminhões levando mudanças.
Cerca de 600 homens da RGE atuam no município, das 6h à 22h, restabelecendo a energia elétrica. A maior parte das residências já têm luz e o restante à espera de ligação enfrenta problemas nas próprias instalações. O fornecimento de água também normalizou, facilitando a retirada de espessas camadas de barro das casas e estabelecimentos comerciais. Em algumas quadras, as pessoas formam filas para usar um lava-jato na limpeza de móveis, eletrodomésticos e utensílios de cozinha.
— Agora é que a gente sente o choque. As pessoas de fora foram embora, aquela comoção inicial vai diminuindo. E a gente continua aqui, sem supermercado, sem banco, sem saber se ainda tem emprego — afirma o operário Pedro Alexandre Venâncio, 53 anos, que perdeu tudo e está abrigado na casa de vizinhos.
Um inventário preliminar da prefeitura registrou 120 imóveis completamente destruídos, mas o número deve passar de 150. Há muitas construções condenadas, como o Colégio Americano, onde estudam cerca de 200 alunos da creche à 5ª série do Ensino Fundamental. As 12 salas de aula foram completamente tomadas pela lama e a estrutura ficou abalada.
Membro da V Volunteer, ONG internacional de ajuda humanitária, o jornalista Fabian Chelknoff está desde quinta-feira em Muçum se reunindo com autoridades para ajudar na recuperação da estrutura urbana e social do município. A ideia é agir na construção de moradias, mas sobretudo ministrar cursos de formação de lideranças e protocolos de risco.
— Esse treinamento é fundamental para que as pessoas estejam preparadas, mas também reduz muito o medo de ficar morando aqui — diz Chelknoff.
Apesar da sensação de que o pior já passou, ainda há pessoas chorando pelas ruas e um sentimento geral de vulnerabilidade irrestrita. No Hospital Nossa Senhora Aparecida, o efetivo médico duplicou – agora são quatro de dia e dois à noite –, com especial cuidado para doenças típicas da exposição à água suja. Para os próximos dias, os médicos esperam uma explosão de casos de desinteria e diarreia.
Outro problema que começou a ser observado neste começo de semana foi o mau cheiro que grassa no município. O calor de 35°C apressou o apodrecimento da matéria orgânica amontoada nas ruas, espalhando um odor pestilento. Algumas pessoas circulam com máscaras legadas pela pandemia, mantendo um otimismo realista.
— Vai dar tudo certo. Ainda vai demorar, mas vai dar certo — diz o publicitário Daniel Bastiani.