No porto de Rio Grande, além de garantir navegabilidade em sete terminais arrendados e quatro privados, a principal atribuição da Portos RS é operar o cais público. Com 1.952 metros de extensão, o atracadouro tem capacidade para receber simultaneamente seis navios e uma barcaça, abastecidos e descarregados em um vaivém frenético de 200 caminhões por dia.
Nove guindastes com 50 metros de altura e capazes de erguer até cem toneladas operam sem parar, manipulando principalmente cargas de celulose, fertilizantes, granéis agrícolas e toras de madeira.
— O cais nunca foi tão movimentado como agora. Antes precisávamos de mais mão de obra, com mais de 1 mil pessoas trabalhando todo dia. Era muita gente e pouca produtividade. Dava mais acidentes também, muito dedo esmagado, pé quebrado, até morte de vez em quando. Agora são 700 pessoas e tudo flui com rapidez e segurança — conta com o gerente de Operações Portuárias, Luiz Henrique Dumont, há 42 anos atuando na beira do cais.
Essa redução do contingente cresceu com a modernização dos portos, nos anos 1990. Os sindicatos dos estivadores e dos portuários do Rio Grande, que chegaram a ter mais de 1 mil filiados cada um, hoje têm, respectivamente, 368 e 143 membros ativos. O refluxo se deu sobretudo pela atualização tecnológica das estruturas, mas também pela profissionalização das atividades.
Antigamente, a função de estivador era passada de pai para filho e muitas vezes os melhores trabalhos ficavam com os amigos do capataz, responsável por escolher as equipes que iriam atuar em cada navio. Desde 1993, por força de lei é preciso passar por processo seletivo e a distribuição das tarefas é feita pelo Órgão de Gestão da Mão de Obra (OGMO), entidade privada que gerencia o trabalho avulso nos terminais. A iniciativa deu maior profissionalismo à escala de serviço e à atividade humana, com impessoalidade nas relações e adoção de regras rígidas de segurança. As novas normas tornaram a função mais atrativa e hoje cooperativas recorrem à Justiça tentando se habilitar ao OGMO.
Antes precisávamos de mais mão de obra, com mais de 1 mil pessoas trabalhando todo dia. (...) Dava mais acidentes também, muito dedo esmagado, pé quebrado, até morte de vez em quando. Agora são 700 pessoas e tudo flui com rapidez e segurança
LUIZ HENRIQUE DUMONT
Gerente de Operações Portuárias
— Antes o estivador era um bruto, trabalhava 12 horas direto, só parava para comer. Eu, que era pequeno, sofria carregando fardos de fumo com cem quilos ou levando um quarto de boi para a câmara fria do navio. A proteção era nossa própria pele, que fervia se caía ureia durante um carregamento. Agora é uma "sopa", tudo tem máquina e a carga é suspensa. Só engato e opero — conta Luiz Paulo Duarte Silveira, 69 anos de idade e desde os 26 trabalhando na estiva.
Ilha de inovação
Em nenhum outro local do porto a tecnologia facilitou tanto o trabalho como no Terminal de Contêineres. Primeiro cais privatizado do país, o Tecon é uma ilha de inovação, capaz de liberar em menos de 10 horas navios com 23 mil toneladas de carga. Tamanha agilidade é possível graças a um sistema de inteligência que começa na identificação facial e biométrica dos 1,2 mil caminhoneiros que entram no terminal todos os dias, passa pelas balanças de pesagem e pelos scanners de inspeção da carga, chega ao pátio de 735 mil metros quadrados onde os contêineres são empilhados e culmina nos pórticos e guindastes — alguns ao custo unitário de US$ 14 milhões — que fazem o transbordo.
A despeito de tanta inovação, o Tecon já viveu dias melhores. Se em 2006 a empresa movimentou 670 mil contêineres, a escala atual é de 400 mil. O crescimento vertiginoso, que fez o número de funcionários saltar de 68 para 850, estagnou na pandemia. Hoje, o faturamento é de R$ 600 milhões anuais. A concessão foi renovada ano passado e perdura até 2047.
— Tivemos em 2022 movimentação de 2003. Muitos clientes foram assediados para outros portos, mas estamos confiantes na retomada. Temos visitas à Ásia para concentrar aqui cargas de Montevidéu e Buenos Aires. As expectativas são boas, e nossa estrutura é especializada, com linhas regulares e serviço semanal para qualquer lugar do mundo — diz o diretor-presidente do Tecon, Paulo Bertinetti.