O projeto para construção do memorial em homenagem às vítimas da tragédia da boate Kiss, em Santa Maria, foi contemplado com R$ 4 milhões. Presidido pelo Ministério Público (MP), o conselho gestor do Fundo Para Reconstituição de Bens Lesados, de onde sairão os recursos, selecionou nesta quinta-feira (13) as 11 propostas apoiadas (veja abaixo). O projeto de Santa Maria será o que receberá o maior aporte dentro do valor total de aproximadamente R$ 9 milhões disponíveis.
O anúncio ocorre no ano em que a tragédia completa 10 anos e no momento em que pais e familiares realizam uma vigília em Brasília para pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) na análise do recurso do MP contra a decisão do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS), de agosto do ano passado, que anulou o júri ocorrido em dezembro de 2021.
O presidente da Associação de Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), Gabriel Rovadoschi Barros, espera se reunir com a prefeitura de Santa Maria nas próximas semanas para tratar do início da obra.
— Estamos muito contentes. É uma conquista para nós. O nosso propósito é que o memorial sirva para que Santa Maria incorpore a nossa história como parte da sua rotina, para que a memória da tragédia não fique nos ombros de ações pontuais promovidas pela associação — explica Barros.
A partir de agora, um contrato será redigido para que as partes assinem formalmente, no caso a prefeitura de Santa Maria, proponente do projeto, e o conselho gestor do fundo. A verba será repassada aos cofres do município após o ato.
— Essa é uma construção coletiva. Foram 11 votos a favor do projeto. É uma maneira de trazer mais um gesto de carinho e solidariedade aos familiares das vítimas e aos sobreviventes do incêndio na boate Kiss. Queremos transformar aquele espaço onde funcionava a boate. Queremos tirar a dor e levar amor e carinho. Desfazer a ruína e construir a memória — afirma o prefeito de Santa Maria, Jorge Pozzobom.
Escolhido por meio de um concurso realizado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-RS) e a AVTSM em 2018, o memorial ficará onde ainda estão as ruínas da boate onde houve o incêndio em 27 de janeiro de 2013, na Rua dos Andradas, no centro da cidade.
— Queremos que o memorial seja um espaço de convivência. É crucial para que nunca mais aconteça algo parecido novamente. O memorial tem ambição de reunir produções pedagógicas sobre o tema, queremos entrar nas escolas, queremos ter produções culturais, é um projeto muito rico — comenta o presidente da AVTSM.
Depois da votação, o procurador-geral de Justiça do MP, Marcelo Dornelles, apontou a simbologia da destinação do valor:
— É uma tragédia que nos toca a todos, indistintamente. O memorial às vítimas da Kiss deve ressignificar aquele espaço para tragédia e é também uma forma de homenagear aqueles que perderam a vida além de servir de alerta para que fatos semelhantes não ocorram novamente.
O memorial
O arquiteto Felipe Zene Motta, de São Paulo, vencedor do concurso de 2018, acrescenta que o memorial tem três propósitos, interligando o passado, o presente e o futuro. De acordo com Motta, o projeto garante respeito à memória das vítimas e ao sentimento dos sobreviventes e familiares.
O nosso propósito é que o memorial sirva para que Santa Maria incorpore a nossa história como parte da sua rotina
GABRIEL BARROS
presidente da AVTSM
— O respeito ao passado se dá principalmente na fachada, feita de concreto e tijolos. É uma fachada austera, dura, porque ela está diretamente ligada à tragédia. Ela garante que ninguém vai esquecer o que aconteceu ali — acrescenta o arquiteto.
Ao entrar no memorial, haverá uma sensação de transformação.
— O passado de dor vira um presente de acolhimento — comenta Motta.
O ambiente interno contará com um jardim, em um espaço iluminado e bem ventilado, voltado ao conforto dos visitantes. Além disso, o teto do memorial será sustentado por 242 pilares de madeira (número de vítimas da tragédia), cada um com o nome de uma vítima e com um suporte no qual poderão ser depositadas flores.
Já o futuro estará contemplado em outras estruturas internas destinadas a receber, principalmente, atividades educacionais e culturais com foco na conscientização para evitar que tragédias semelhantes aconteçam.
O memorial terá um auditório, com um palco central e espaço para plateia de lados opostos, uma sala multiuso para abrigar acervo de exposição multimídia e uma sala para comportar a sede da AVTSM. O projeto está distribuído em um único pavimento, para facilitar a acessibilidade e torná-lo mais viável economicamente, além de facilitar a manutenção.
O escritório de Motta foi o vencedor entre 133 projetos inscritos, dos quais quase um terço eram do Rio Grande do Sul e os demais de 13 Estados brasileiros diferentes. Prefeitura de Santa Maria, Nações Unidas e três faculdades de Arquitetura e Urbanismo de Santa Maria foram parceiras na realização do concurso.
Demais projetos contemplados
- Plano de gestão e desenvolvimento da paisagem do Vale dos Vinhedos (Plan-Vale)
- Consórcio Intermunicipal de Gestão Multifuncional (Citegem)
- Qualificação da Gestão Ambiental do Município de São Francisco de Paula
- Aquisição de viaturas e equipamentos para a 2ª Delegacia de Polícia de Novo Hamburgo e 1ª Delegacia de Bagé
- Capacitação de equipe multiprofissional para o atendimento ao idoso do município de Gravataí
- Aquisição de veículo para incrementar a operacionalidade da APAC de Porto Alegre
- Qualificação da assistência à saúde de populações vulneráveis pelo Associação Hospitalar Vila Nova
- Pão dos Pobres, Todo Dia um Novo Futuro, na perspectiva da ampliação e excelência no acolhimento institucional
- Projeto de requalificação de leitos maternidade SUS do Hospital Universitário São Francisco de Paula
- Compra de veículo para coleta seletiva de Viamão