“A mãe pediu encarecidamente que buscássemos Justiça.” É assim que o advogado Thiago Carrão define o seu objetivo no caso da ponte pênsil entre Torres, no litoral norte gaúcho, e Passo de Torres, no sul catarinense. Ele representa Cristiane Santos, 38 anos, mãe d Brian Grandi, 20, que foi encontrado morto após o acidente. A estrutura virou após o rompimento de cabos, na madrugada de 20 de fevereiro.
O principal argumento defendido pela família é de que o poder público tem responsabilidade pelo que aconteceu. Carrão alega que há sinais claros de omissão por parte das prefeituras, que teriam a responsabilidade de realizar a manutenção da travessia.
— Na nossa visão, foi de imensa má-fé e de mau gosto, pelas figuras dos prefeitos, tentar induzir ao erro das pessoas, dizendo que tinha mais de cem pessoas na ponte pênsil. Um disse que tinha mais de 150. Isso feriu a mãe. Ela me disse: “Thiago, estão tentando culpar o meu próprio filho” — afirma o advogado.
Carrão conta que estava em Passo de Torres, na casa do sogro, e presenciou a festa de Carnaval do lado catarinense. Ele afirma que a comemoração, em praça pública, reunia milhares de pessoas e que chegou a registrar a festa em vídeo. Para o advogado, os prefeitos Carlos Souza, de Torres, e Valmir Rodrigues, de Passo de Torres, tinham consciência do risco de ocorrer um acúmulo de pessoas na ponte após o evento.
— Eu acredito que tinham mais de 2 mil pessoas na festa, que já estava prevista. Houve uma orquestragem com o prefeito de Torres, que fez o Carnaval no sábado e não fez nada no domingo para deixar Passo de Torres fazer. Eles sabiam que ia existir uma migração de foliões. Passo de Torres, diferente do que fez no Ano Novo e no Natal, deixou a passagem da ponte aberta — acrescenta o advogado.
O advogado também diz que foram adicionados vários banheiros químicos ao local da festa, o que, segundo ele, reforçaria a tese de que a aglomeração de pessoas era de conhecimento público. Ele também menciona o fato de um barco ter atingido a ponte no início de fevereiro, o que pode ter deixado danos.
Thiago Carrão acompanha o inquérito policial e busca a responsabilização das autoridades envolvidas por homicídio culposo e lesão corporal culposa, porque, além de Brian ter sido uma vítima do acidente, houve pessoas que se machucaram ao cair da estrutura.
— Diferente do que ocorreu em Santa Maria (com a tragédia da boate Kiss), queremos que se torne um exemplo para outros prefeitos, secretários, engenheiros. Os prefeitos simplesmente se omitiram e estão tentando desenhar uma culpa exclusiva das vítimas — afirma Carrão.
Depois da conclusão do inquérito e do envio do relatório ao Ministério Público, que, por sua vez, deverá oferecer a denúncia ao Judiciário, o advogado da família entrará no processo como assistente de acusação.
Contraponto
A reportagem de GZH contatou as assessorias das prefeituras de Torres e de Passo de Torres. Ambas optaram por não se manifestar sobre o assunto no momento.