Aos 80 anos, Florinácio Nunes da Rosa passou a manhã desta terça-feira (16) cobrindo com lonas os buracos abertos pelo granizo no telhado. Lá de cima, o policial aposentado via uma porção de casas atingidas na Vila Pinheiros, em Rio Pardo, e consolava o vizinho, que tentava consertar algumas telhas escalando uma escada.
— De que adianta ficar triste? Estando vivo, está bom — gritou o homem.
Cerca de 3 mil famílias foram atingidas pela queda de granizo na cidade do Vale do Rio Pardo, que tem cerca de 38 mil habitantes. O fenômeno foi registrado no final da tarde de segunda-feira (15), por volta das 18h. Não durou mais que cinco minutos, mas deixou branca a rua de Florinácio, com pedras de gelo com o tamanho de ovos de galinha, conforme o aposentado.
O bairro dele não foi o único afetado: coordenador da Defesa Civil de Rio Pardo, o tenente Robson Lemes relata que os estragos ocorreram de forma generalizada, em todas as regiões da cidade. A fila para buscar doação de lonas dobrava a esquina do Batalhão de Bombeiros Militares na noite após o temporal e ao longo do dia seguinte. O tempo permaneceu firme na cidade nesta terça.
Até em uma loja de materiais de construção da Rua Andrade Neves, o granizo encheu de furos o galpão que serve de depósito. Repará-los não era prioridade: a proprietária, que preferiu não se identificar, se virava para atender os clientes primeiro. Ela circulava de um lado para o outro pendurada no celular, tentando conseguir a reposição das lonas e telhas esgotadas com lojas de municípios próximos.
— Ninguém pode lucrar em cima da desgraça alheia — repreendeu ao telefone, quando achou alto um preço informado.
Transtornos na cidade
O prefeito Rogério Monteiro decretou situação de emergência em razão do temporal de granizo, mas não há relatos de pessoas feridas. Na noite de segunda, a prefeitura informara que havia 10 famílias desabrigadas. Elas buscaram ajuda com parentes e não precisaram recorrer ao acolhimento na casa de passagem do município ou em ginásio. Nesta terça, já não havia desabrigados, segundo a Defesa Civil.
Também não foram registrados danos significativos em escolas ou prédios públicos. Dois postos de saúde tiveram pequenos transtornos, mas não deixaram de atender. Os problemas, segundo as autoridades, se concentraram em residências, e as aulas foram suspensas nesta terça para que as famílias pudessem se reorganizar.
No momento do temporal, a professora Nilvia Leal Azeredo Souza, 56 anos, estava cuidando da mãe, de 86 anos, que não se locomove sozinha. Em meio à chuva, chamou os vizinhos para ajudar a colocar a idosa no único quarto da casa que permanecia seco.
— De repente, o céu ficou preto e corria água pelas paredes. O sofá ficou encharcado, molhou a cama também — conta ela, mostrando os móveis levantados em um dos quartos.
Vizinha no bairro Boa Vista, Elaine Abrantes, 72, também precisou empurrar móveis às pressas quando a chuva se acirrou.
— Foi terrível. A garagem, a cozinha, a sala, lavou de água — relata. — Com essa intensidade, eu nunca vi.
Para cobrir o telhado com lona, a dona de casa contou com a ajuda do filho e de um vizinho, o recenseador do IBGE Rogerio Souza Pinto, 48. Ele também teve o telhado furado pelo granizo e, durante o temporal, ainda viu uma televisão e o roteador de internet queimarem.
Pouco depois das 17h, acabou a quantidade de lonas que a Defesa Civil de Rio Pardo havia conseguido para distribuir a moradores atingidos pelo temporal de granizo. O material foi entregue para mais de 1,8 mil famílias.