Um imóvel de Estância Velha, no Vale do Sinos, cresceu para comportar a paixão de Luiz Antonio Schwantes, 74 anos. A casa de construção mista foi ampliada em cerca de 150 metros, com salas construídas exclusivamente para resguardar os 15 mil itens do colecionador, reunidos há mais de 30 anos.
— Olha, eu acho que ele ama igual. Porque eu ajudo a cuidar — adianta-se a esposa, Leni Golzer, 60 anos, comparando o amor do marido por ela e pelas relíquias.
São sete ambientes, em diferentes cores e formatos, que começam pela cozinha, com uma geladeira Steigleder reformada, vizinha a uma cinquentenária TV Philco com caixa de madeira. Os objetos se espalham pelas paredes da garagem e da escada, ambas cobertas com canetas fixadas em painéis de fundo branco. O andar superior, inteiramente erguido para a "casa-museu" reserva uma surpresa histórica: flâmulas das campanhas dos políticos Leonel Brizola, Peracchi Barcellos e Ildo Meneghetti, alinhadas sem qualquer rivalidade.
— Eu não vendo nenhum item e raramente compro. São fruto da doação das pessoas, que sabem que gosto — garante o colecionador.
O sótão tem redomas de vidro e os itens são separados por categorias, com predominância dos chaveiros — estes, subdivididos entre os de estampa de empresas que não existem mais e de times de futebol, por exemplo. Foi a partir deles que o acervo começou: Marcos Antonio Kroeff estava vendendo sua chácara e queria encontrar um novo espaço para suas 800 peças. Anunciou no jornal O Minuano o desejo de doar os chaveiros e logo recebeu uma ligação do colecionador. Na manhã desta quinta-feira (4), ao ouvir a referência ao pai na Rádio Gaúcha, o filho de Kroeff, Luciano Kroeff, 47 anos, foi até o imóvel e ficou espantado ao reencontrar o amigo que detém sua antiga herança:
— Meu pai precisava reformar a casa, mas não queria jogar fora os chaveiros. Vieram para o seu Luiz, que cuida muito bem, não tem uma poeirinha, olha só!
Guardião de troféus do jogo de bolão
Mecânico com formação na Alemanha, Schwantes tem em casa peças de automóveis, placas e volantes pendurados no forro. Patente com penico de ferro, máquinas artesanais de fazer linguiça e outras ferramentas dos colonos alemães da região dividem espaço com louças, brinquedos e brindes da Varig, Vasp e Cruzeiro do Sul.
Já me chamaram de louco pelas costas, por guardar tanta coisa. Mas quando estou aqui, me sinto como um gaúcho que sai do Estado e reencontra o churrasco.
LUIZ ANTONIO SCHWANTES
Colecionador de objetos antigos
A sirene da primeira ambulância da cidade é outra das relíquias do antiquário. Já os telefones de disco com o símbolo da CRT e o cartão do banco Meridional atestam que tudo que ali está é de outros tempos.
— Já me chamaram de louco pelas costas, por guardar tanta coisa. Mas quando estou aqui, me sinto como um gaúcho que sai do Estado e reencontra o churrasco — compara, sorridente, entre piadas que fazem parte da sua personalidade.
Documentos, como uma ata assinada em 2015, foram plastificados para não serem corroídos pela exposição. Uma série de medalhas e troféus estão na casa a pedido da Sociedade de Canto União — além do coral de vozes, a entidade com mais de cem anos venceu inúmeros campeonatos de bolão, mas não tinha um local seguro para mantê-los.
Outra taça tem menção sob a vitrine que protege centenas de caixas de fósforo: o rosto de Bellini, capitão da Seleção Brasileira na copa de 1958, está impresso em rara embalagem temática sobre o primeiro torneio vencido pelo Brasil.
Visitas devem ser agendadas
O colecionador recepciona quem quer conhecer seu relicário, desde que previamente agendado pelo telefone (51) 99972-0764 (com WhatsApp). No tour, ele explica a história do local em detalhes — e como gosta de uma boa conversa, a sugestão é ir sem pressa.
— Mas tem que olhar com os olhos, não com a ponta dos dedos. Tem muita coisa antiga, que pode quebrar — alerta de antemão.
Um livro de presenças foi assinado mais de 500 vezes, mas cada acesso ao imóvel rende o encontro com "velhas novidades", define o amigo João Gabriel Dilkin, 22 anos. Enquanto caminha nos corredores, o jovem anuncia que, em breve, outra sala terá de ser projetada.
— Minha mãe disse que ia jogar algumas coisas fora. Eu disse que não, que ela tem que doar para o seu Luiz — afirma.
No canto mais extremo da residência, estão máquinas de escrever, filmadoras, aparelhos de videocassete, walkmans e câmeras fotográficas. Sobre grandes pastas de cartões de visita, repousa um caderno com 2,7 mil apelidos de moradores ou pessoas ligadas ao município: Foguinho, Salame e Cavalo estão entre os publicáveis.